31 de dezembro

Reflexões reflexivas

Sidney Borges
Um vizinho da casa de meus pais enfartou e teve sorte. Foi dos primeiros no Brasil a receber ponte de safena, técnica ainda experimental. Ficou mais de um mês no balão de oxigênio, antigamente não tinha UTI. Saiu novinho em folha, um verdadeiro milagre, os dedicados médicos do HC salvaram a sua vida. O nome dele era Lourenço, trabalhava como fiscal da Receita Federal e viajava semanalmente ao Rio de Janeiro. Tendo sobrevivido ao enfarte, jurou que não morreria em acidente aeronáutico. Por precavida precaução viajava de Cometa leito, embora tivesse direito a Ponte-aérea. Numa tarde chuvosa teve a visão atrapalhada pelo guarda-chuva e foi atropelado pelo "Estações", em frente à rodoviária do Frias. Dessa vez não houve milagre. Lourenço jaz na campa da família no Quarta-Parada. O cinema e a televisão copiaram a literatura romântica. Criaram salvadores de vidas, médicos abnegados, bombeiros corajosos, heróis de guerra. Bulshit. Na vida real alguns de fato fazem bem o seu trabalho, mas a verdade é que ninguém salva ninguém. Quando o filme termina a vida continua e a morte é certa como os impostos. Por mais que eu tente entender o universo não me dou bem com a idéia da morte. Se um dia eu encontrasse Deus, daria bom dia e faria uma única pergunta:
- Se foi para desfazer por que é que fez?

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