O sertão virou mar?


Márcio Martins/AE
Jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), espécie de cobra que só existe na ilha de Queimada Grande

Há 20 mil anos, oceano ficava a 100 km da Serra do Mar

Ilhas de São Sebastião (Ilhabela), Queimada Grande, Alcatrazes, Montão de Trigo eram montanhas em terra firme

Herton Escobar, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Se a viagem de fim de ano dos paulistanos para passar o réveillon na praia já parece longa hoje, por causa do trânsito, imagine como era 20 mil anos atrás. Naquela época, o mar ficava muito mais distante da costa. Depois de cruzar a Serra do Mar, ainda seria necessário dirigir 100 quilômetros em linha reta até a praia mais próxima. As ilhas de São Sebastião (Ilhabela), Queimada Grande, Alcatrazes, Montão de Trigo e outras que pontuam o horizonte marítimo atual eram, na verdade, montanhas em terra firme, diretamente ligadas ao continente.

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Foi só 6 mil anos atrás, ao fim da última era glacial, que a linha da costa se estabilizou na posição atual e as antigas montanhas ficaram definitivamente aprisionadas pelo mar. Nesse momento, um espantoso processo evolutivo já estava em curso. Animais e plantas que tiveram o azar - ou a sorte - de ficar isolados nas ilhas começaram a se dif erenciar rapidamente de seus familiares no continente. Algumas populações ficaram tão diferentes que se transformaram em novas espécies, restritas a uma única ilha.

Algumas dessas espécies - chamadas endêmicas - já são conhecidas dos cientistas, como as famosas jararaca-ilhôa, da Ilha de Queimada Grande, e jararaca-de-alcatrazes, da Ilha de Alcatrazes. Mas muitas podem ainda estar escondidas dentro de suas pequenas florestas, aguardando para serem descobertas. Os próprios pesquisadores reconhecem que seu conhecimento sobre a biodiversidade das ilhas paulistas é muito limitado. "Comparado ao que sabemos sobre a biodiversidade do continente, é nada", diz o ecólogo Marcio Martins, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).

Por causa dessa falta de conhecimento, os ecossistemas marinhos - praias, manguezais e ilhas, além do próprio mar - ficaram de fora, até agora, dos mapas de áreas prioritárias para conservação produzidos pelo programa Biota, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Pesquisadores de várias instituições, porém, estão empenhados em redigir projetos para reverter esse cenário em 2009.

"Tivemos dificuldade com essa parte marinha e estamos incentivando os grupos a preencher essa lacuna agora", diz o biólogo Ricardo Ribeiro Rodrigues, coordenador do Biota e pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP). O esforço é feito em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado.

O plano é apresentar propostas para três projetos temáticos sobre biodiversidade do mar, das ilhas e das praias e manguezais do litoral paulista. "Em cinco anos queremos chegar ao nível de conhecimento que temos do continente", diz Martins. "Pode esperar que vai aparecer muita coisa interessante."

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