Literatura

A morte ignorada de Valêncio Xavier

Wilson Bueno
Espero, senhores, com que os grandes jornais e as revistas especializadas estejam preparando, no mínimo um alentado dossiê sobre a vida e obra de Valêncio Xavier – um dos mais inventivos prosadores surgidos no Brasil nos últimos tempos, recém falecido em Curitiba, aos 75 anos. À exceção da imprensa local, pouco ou quase nenhuma foi a repercussão nacional da morte do escritor, em condições cruéis, devastado pelo Alzheimer.


O paulistano, e polaco, Valêncio Niculitcheff, morava há mais de 50 anos em Curitiba onde produziu vídeos, peças, filmes, textos, programas de televisão. Trabalhador incansável, em seu caso somava-se a isso o interesse múltiplo e numeroso por diversas áreas, o que o tornava ainda mais inquieto, excitado sempre e rabugento por excelência.

Nunca o deixei de perdoar, mesmo as vezes em que me atacou duramente – sempre por diferenças pessoais – , num delírio que já era a sua marca, muito antes de a doença começar a devorá-lo, devagar e de modo insidioso, em 2002. Jamais criticou o que escrevo, coisa que ele, mesmo engolindo em seco, parecia admirar. Afinal vibrávamos na mesma pauta – a busca de uma maior expressividade da prosa brasileira. Ao largo, ao menos, dos romancetes que se fazem por aí com vistas a entreter o fim de semana de enfarados executivos paulistanos.

Depois que começou a ser publicado pela Companhia das Letras, considerava-se, por sua conta e risco, o maior escritor brasileiro vivo. E dizia isso sem nenhum pudor, em qualquer lugar, em qualquer roda, em círculos íntimos ou públicos. Ainda não era a doença, repito e garanto, mas ali talvez ela já deitasse seus ovos.
Leia mais

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu