Ubatuba

Vitória da vitória

Rui Grilo
Hoje recebi esse e-mail abaixo:

Rui,

nós da Cooperuba-tuba elaboramos projeto para Petrobrás com ajuda da Marina (caixa ecônomica de SJC) e graças a Deus fomos selecionados. O projeto é todo voltado à coleta seletiva em Ubatuba. Gostaríamos de pedir que vc, por favor, divulgue, pois para nós é uma grande vitória, e precisaremos muito da força de todos para seguirmos com esse projeto que desde setembro de 2007 iniciamos aqui na região Sul, mas que temos como meta atingir o municipio em três anos (se tivermos apoio). Para nós foi um presentão de Natal. Um feliz ano novo e obrigado pela força.

Um abraço,

Vitoria.

No balanço que fiz deste ano (ANO NOVO, VIDA NOVA) esqueci de colocar como pontos positivos a abertura para colaboração nos virtuais Revista Guaruçá, Ubatuba Víbora e Litoral Virtual. Portanto, aqui vai o meu agradecimento ao Luiz Moura, ao Sidney Borges e ao Emilio Campi.

Através desses espaços pude me contactar com muitas pessoas que não conheço ou das quais não me lembro pois conheço muita gente. Dou aulas desde 71 e, durante vários anos tinha contacto com todos os alunos da escola porque trabalhava na sala de leitura. Quando fazia caminhadas pelo bairro, às margens da represa Guarapiranga, às vezes demorava quase quatro horas pois a cada trecho alguém me parava para conversar. Aqui, em Ubatuba, várias vezes fui surpreendido ao receber e-mails ou quando algumas pessoas vem comentar pessoalmente o teor dos meus textos.

Ao ler o texto da Vitória, fiquei muito feliz pela árdua conquista, e que reforça o texto sobre o lixo publicado no último domingo no UBATUBA VÍBORA. É a grande conquista da tecnologia: colocar-nos em contacto com pessoas que tem as mesmas preocupações e os mesmos desejos. Ou até mesmo divergências que podem ser superadas, como se percebe no texto do Renato Nunes (29/12/08).

Mas diálogo não é só concordância, é o espaço para o confronto e a mudança. Como ensinava MARX , do confronto entre a tese e a antítese surgirá a síntese, que não é igual a nenhuma das duas mas que carrega dentro de si as duas anteriores. Do confronto entre o filho e o pai, nenhum dos dois permanecerá o mesmo; ambos incorporarão valores e idéias do outro sem deixar de serem eles mesmos, com personalidades distintas.

Ao receber o e-mail da Vitória me lembrei do Alemão, esposo de uma amiga minha. Era um sujeito franzino, nordestino, participante e cheio de vida. Ao vê-lo preso na cama, tetraplégico, usando fraldas e sondas, mas lúcido, fiquei imaginando a dor e a revolta que aquele tiro na coluna provocava. Para romper essa prisão, a Regina, sua esposa, levava-o uma vez por semana a uma rádio onde ele fazia um programa. Era a sua maneira de se sentir vivo e útil à comunidade.

Quando vai chegando o domingo, vou ficando cada vez mais tenso, vou me identificando com o Alemão, tentando encontrar um assunto que possa interessar ou que seja importante discutir. Essa tensão me traz a alegria de estar vivo e ainda poder fazer alguma coisa.

Como dizia Guimarães Rosa : “Viver é perigoso”. E escrever é um desnudar-se, é fazer um streap-tease da alma, tornando-nos vulneráveis. Mas realmente só nos aproximamos uns dos outros quando nos desnudamos.

Ao escrever vou fazendo novos parceiros e quando temos algum retorno, isso nos faz sentir como uma das formigas que, com seu pequeno mas incessante trabalho vão construindo os montes de terra e os túneis do formigueiro, arejando a terra e transformando-a. No entanto, sempre há os esquecidos, como as minhocas, que com seu trabalho torna a terra mais rica e produtiva.

A vitória da Vitória veio, de certa forma, reforçar as idéias contidas na mensagem ao prefeito, confirmando que existem saídas para reduzir o gasto com o transbordo do lixo e que um outro mundo é possível.

Parabéns Vitória !
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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