Conjuntura

Cinzento e nebuloso

Sidney Borges
Informo aos leitores que a minha capacidade de entendimento se encontra esgotada. Quando ouço ou leio a palavra "satiagraha" meus sentidos se revoltam e um "fade out" escurece tudo. Explico melhor, fui criado assistindo matinées no Savoy. Tenho na minha imaginação que o mal será derrotado. Hollywood não mente, mostra a vida como ela é. Naquelas doces tardes de domingo o mocinho montava um cavalo branco e estava sempre barbeado e penteado. No final se casava com a mocinha, bonitinha, eu até diria gostosinha, mas não ousava, era pecado. De saia rodada e rabo de cavalo. O vilão terminava por ser enviado ao inferno. Com a barba por fazer e os cabelos desgrenhados. Não havia segredos escusos. Nada de gravações e grampos. Estes, se porventura existissem, fixavam louras madeixas. Logo que o filme começava a gente sabia quem era quem. Bandido era bandido, estava na cara, mocinho era mocinho, também estava na cara, cavalo era cavalo, estava no fuço e a mocinha se chamava Nancy. Neste momento que o vulgo chama de atualidade tudo se me é confuso, não sei se torço para o De Sanctis, para o Protógenes ou para o Dantas. Cara de mocinho os três exibem, são perfumados e limpinhos, mas um é bandido, ou talver haja dois bandidos, ou quem sabe seja uma confraria de bandidos, ou na pior das hipóteses são todos mocinhos e eu estou ficando maluco. Que maledeto imbróglio se estabeleceu no mundo desde a queda do Muro de Berlim. Eu era feliz e não sabia, tinha certeza que um dos lados era melhor. Agora só há um lado e o Bush. Ideologia, preciso uma pra viver...

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