Os bravos não choram

Excertos da realidade

Existe um momento na vida em que fantasia e realidade se confundem. Acontece ao redor dos sete anos de idade. Foi por aí que notei a numeração dos dias.
- Hoje é dia 6?
- É. Por que você quer saber, contas a pagar?
- Não, não sei o que é isso. Amanhã é dia sete? E depois é dia oito?
E assim fui perguntando até fazer a pergunta que os leitores devem estar imaginando.
- Amanhã é dia 32?
- Não, é dia primeiro, dia número um.
Por alguns dias não me convenci, depois aceitei como algo imposto e desde aquela época decidi ser contra tudo o que é imposto.
Logo me dei conta dos meses e de seus nomes estranhos. Quando os números dos dias terminavam, o mês mudava de nome. Num passe de mágica decorei todos e também os dias da semana, o que é muito difícil em outra língua, parece que o cérebro não gosta. O único dia que achei fácil em inglês foi o domingo. Contei com a ajuda do sorvete, sundae, embora meu dinheiro só desse para comprar “colegial”. Banana split nem pensar.
Foi por volta dos sete anos que comecei a entender o que é desilusão, tive meu primeiro enfrentamento da realidade. Foi duro, me causou imenso sofrimento.
Descobri que dentro do Mickey tem uma pessoa, aconteceu no Parque Ibirapuera, quando errei a porta do banheiro e entrei no camarim das estrelas do “Show da Disney”.
Confesso que embora meu coração estivesse partido, fui forte, não chorei nem me lamentei.
Naquela noite recusei guaraná e fui dormir sem tocar na sobremesa.


Sidney Borges

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