Política

Pesquisas e Demagogia

O verbo adular provem do latim adulari, uma expressão próxima a acariciar e a adulterar. Este último verbo provem da raiz AL, ou seja, mais além de ou no latim -alter, outro. Seguindo esta pista etimológica poderia dizer-se que a adulação tem o efeito de alterar, de levar mais além de si mesmo, a quem o adulador adultera, primeiro sua própria imagem para manipular depois a vontade. Fascinado pelo adulador, o adulado -acredita-, e cai, a partir daí, baixo a influência de quem o manipula como um meio para seus próprios fins. As carícias do adulador corrompem a sua vítima, alteram a sua natureza.

Quando Aristóteles tratou deste tema em A Política, distinguiu dois tipos de adulação, conforme o regime político. Nas monarquias os cortesãos inescrupulosos corrompiam o rei mediante as caricias da adulação. Nas democracias, cujo soberano é o povo, os políticos corrompiam o povo mediante as caricias da demagogia. Mas hoje os demagogos contam com um poderoso instrumento que os contemporâneos de Aristóteles não tinham: a capacidade de medir cientificamente os sentimentos e as preferências dos adulados. Hoje a terra fértil que nutre a demagogia é a proliferação de pesquisas.


Aristóteles elaborou dois tipos de discurso: o eXotérico -destinado ao publico em geral-, e o eSotérico, reservado a seus discípulos. Da mesma forma há que se distinguir dois tipos de pesquisas: a exotérica, que se exibe ao publico, e a esotérica, para uso reservado do cliente.O objetivo das pesquisas exotéricas, é o marketing. Quando se pode apresentar com um mínimo de verossimilhança, uma pesquisa que favorece a um candidato este decide divulgá-la. Elas tratam de um exitismo, de um jogo de ganhador. O observador deve ter muito cuidado com elas.

As pesquisas esotéricas, são as que mais se aproximam da verdade. Mas só o cliente a conhece. Mas que efeito produzem sobre o político que a contrata?

O sociólogo Dick Morris, consultor a seu tempo de Clinton, distingue três tipos de políticos: o "idealista falido" que tem grandes ideais, mas não consegue comunicá-los ao publico; o "Idealista Astuto", que tendo grandes ideais consegue comunicá-los e que é o melhor dos políticos porque é o estadista capaz de guiar seu povo. E o pior político é o "Demagogo" que -ao contrário- não abriga nenhuma idéia própria, mas que para triunfar se limita a cultivar sem escrúpulos, o que o público deseja, usando as pesquisas esotéricas sem preocupação com a realidade ou o futuro. Quer governar em direção a seu próprio êxito apenas.

Tanto o idealista astuto como o demagogo utilizam pesquisas esotéricas. Um para comunicar com eficácia seus ideais. O outro para manipular as massas segundo a arte perversa da adulação.

Idéias que hoje não atraem majoritariamente o público poderão atrair no futuro quando as fórmulas demagógicas mostrarem sua falácia. Mas no outro extremo da tipologia de Morris milita uma grande quantidade de políticos que se limitam a medir as pesquisas esotéricas para dizer à maioria, em cada momento, o que ela deseja escutar. Estes demagogos se dedicam exclusivamente ao curto prazo: prometem o que se deseja hoje. Quando o humor social muda eles mudam também.

Mas seu destino os espera, certamente, em longo prazo, que agora desdenham.
Trechos da coluna dominical de Mariano Grondona em La Nacion
(Do Ex-Blog do César Maia)

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