Brasil

A força simbólica de Lula não pode ser desperdiçada

Lula é a maior força simbólica da História do Brasil. “Nunca antes”, nem com Getúlio, um presidente foi tão cultuado. E ele também, diga-se, tem um amor tosco, mas real pelo país. E esta força simbólica não pode ser desperdiçada, neste momento privilegiado da economia mundial,com maioria no Congresso. Depois do mensalão, Lula ficou por baixo e, mesmo reeleito, teve de se curvar ao PMDB e ficou imobilizado no pântano das coalizões com a ralé mais baixa. Agora, ou ele se fortalece e age ou perde a chance histórica de fazer alguma coisa por este país. O Legislativo se conspurcou tanto com o poder que conseguiu que perdeu a moral para comandar a democracia. Está na hora de Lula reagir e recuperar seu poder executivo, se é que ele quer...
Lula não pode continuar o manso refém dos fariseus que o apóiam. Como governar com um Senado cujo presidente está metido nesse “armengue”, em que o líder da maioria é o Jucá, e o Sarney, o conselheiro-chefe. Chega! Não dá mais para ficarmos na volúpia doentia de assistir ao adultério lamentável de empreiteiras e políticos.
Não dá mais para sermos os eternos voyeurs, os eternos leitores de escândalos semanais que nunca acabarão, pois são sistêmicos. Não dá mais para chanchada de suspense, para sabermos se Mônica recebeu dinheiro, se o Paulo Medina, se o Zuleido, se o Renan, se o Jackson Lago, se... se... se...
Isto está fazendo um mal físico à opinião pública, que se esgoela nas colunas dos leitores, impotente. Assim como a Gautama, temos, no mínimo,umas 20 empreiteiras fazendo o mesmo: obras para o nada. Se o Lula quiser fazer um governo histórico, ele terá de se fortalecer junto à cidadania (não estou falando de governo plebiscitário, nem de “chavismo cordial”), junto aos jornalistas, junto à classe média que está de cabelo em pé diante do show de escrotidão, tem de se aproximar dos militares, para incluí-los no processo de reflexão política, Lula tem de ter peito e força para conseguir do Congresso reformas essenciais, como a política, a da Previdência, Lula tem de crescer junto às altas instâncias jurídicas do país, que ficam na molenga lenga-lenga da letra da lei, impedindo qualquer providência urgente, Lula tem de conseguir apoio de altos nomes do país. Sei que ele tem preguiça e medo de marolas, sei que é dificílimo, sei das injunções da coalizão dos infernos, mas está na hora de tentar. Não se trata apenas de seu governo; é a nação, cacete! O prestígio da democracia está se desfazendo diante de nossos olhos, e ninguém faz nada? Lula, com 70% de aprovação, não pode continuar assim, pasmado, esperando algo que não virá nunca. Nunca um presidente civil teve tanto poder potencial.
Está na hora de gestos novos, inéditos, rupturas, saltos qualitativos dentro da democracia. Estamos precisando de um momento histórico de grandeza. Acho que ele já aprendeu muito sobre os malucos que o cercavam e sobre os corruptos com quem trata. A ideologia de Lula era um ensopadinho de sindicalismo com um desenvolvimentismo vulgar. Agora, talvez ele já tenha entendido que não tem de fazer nada com o Brasil. Talvez ele tenha entendido que o que ele precisa é DES-FAZER. Precisamos desfazer as causas do império da escrotidão que manda em tudo, temos de desfazer a Comissão de Orçamento do Congresso, as regras de licitação, as emendas individuais e coletivas, temos de exigir a mudança das execuções penais. Lula tem de AGIR, tem de assumir o poder que tem, o imenso poder simbólico que tem,mais que Getúlio, JK, FHC.
Lula tem de privatizar as estatais corruptas, tem de dar concessões para aeroportos que estão prestes a acabar, estradas podres, usinas de energia. O PAC não vai sair porque o sistema corrupto impedirá. É impossível desenvolver o país com essa avalanche de roubalheira estabelecida e tolerada.
E ele precisa de apoio para agir, e ele precisa pedir apoio também. Que tem ele a perder? O sucessor?
Ou surge uma ideologia de modificação nacional ou o Brasil vai para o brejo; é só acabar a bonança econômica internacional. Será que não existe um resquício de “amor à pátria” ou amor à razão? Tremo de vergonha ao escrever isso, me sentindo um idiota. (Meus inimigos dirão: “Finalmente ele se encontrou...”)?
Mas, digo: está na hora de a nação se mobilizar. Sei que essa frase soa anacrônica e romântica, mas Fernando Henrique Cardoso deveria procurar Lula, ou vice-versa. Há um vago parentesco entre tucanismo e lulismo. Alguma forma de “bi-partisanship” (bi-partidarismo) tem de rolar. É romântico? É impossível? Não sei. Mas está na hora até de errar. Vamos errar! Quais são os governadores que mais se aproximam do que Lula pensa? José Serra, Aécio Neves e Sergio Cabral, todos do PSDB. E quando eu falo “procurar o Lula”, não é apenas por interesses eleitorais e sucessórios (como tem sido até agora...). É para reformar esta droga desse país, cacete, que está um bacanal de sordidez, desmoralizando a democracia.
Está na hora de acabar a maldição do nouveau-riche José Dirceu, que considerava os tucanos o “inimigo principal”.
FHC tem de procurar Lula, convidado ou não. Chega de “análises críticas da conjuntura”.... Está na hora de esquecer querelas e injustiças de parte a parte. Lula não pode se apoiar apenas na suja coalizão que seqüestrou o país.
Tudo isso que digo, é, claro, se Lula quiser....
Artigo de Arnaldo Jabor transcrito do jornal O Globo, dia 05 de junho de 2007 (Do Blog do Noblat)

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