Pensata

Um prêmio muito importante

Miriam Tabarro
Em tempos de assistencialismo explícito, é reconfortante saber que o Comitê do Nobel deu ao economista bengali Muhammad Yunus o Prêmio Nobel da Paz de 2006.
Esse professor de Economia Rural da Universidade de Chittagong, no Bangladesh, revolucionou as finanças a partir do conceito do microcrédito, sistema de empréstimos concedidos a pessoas que jamais teriam essa oportunidade no sistema bancário tradicional.
Yunus dava aulas numa zona montanhosa, muito pobre, e, curioso sobre como viviam as pessoas de uma aldeia próxima, decidiu sair com seus alunos para uma análise in loco. Ficou surpreso ao saber, entre outras coisas, que 42 pessoas eram reféns de um agiota para quem deviam a módica quantia de US$ 27, emprestados para comprar material de trabalho. Pagou o empréstimo do próprio bolso e ficou perplexo com a taxa de cumprimento: 98%, espantosamente alta.
Animado com a experiência, desenvolveu-a até torná-la um projeto muito bem sucedido de pequenos empréstimos: O Grameen Bank ou Banco de Aldeia, também conhecido como Banco dos Pobres, formalizado em 1983.
O Grameen Bank está baseado na noção de aval solidário e é propriedade dos tomadores que detém hoje 90% do banco. O restante, 10%, fica com o governo.É um banco exclusivo para os pobres, para aqueles que jamais teriam acesso aos serviços financeiros normais, controlado por eles, e que os auxilia a gerar sua própria renda. Um outro elemento importante no sucesso do banco é o agente de crédito. O banco chega até o cliente através dele que tem autonomia e capacidade para avaliar as reais necessidades, intenções e potencialidades de quem vai atender. Assiste atualmente a 6,7 milhões de mutuários e empresta mais de US$ 800 milhões a cada ano, dinheiro que vem inteiramente da captação de seus depósitos, sem precisar recorrer ao mercado internacional.
Fomenta uma verdadeira e gradual revolução.Observando que as famílias aproveitavam muito mais os recursos quando estes eram dados às mulheres, o banco tem nelas seu ponto de convergência, somando 96% dos tomadores de empréstimos. Esse fato contribuiu para aumentar a auto-estima e a influência das mulheres em Bangladesh, a ponto de várias delas serem eleitas para governos locais.O que não é pouco para uma região sob influência islâmica.
Além disso, o microcrédito, sistema adotado pelo Grameen reduziu consideravelmente a pobreza de pelo menos 58% dos mutuários, a taxa de natalidade caiu, a nutrição melhorou e a escolaridade cresceu quase 100%.
Essa iniciativa deveria ser imitada à exaustão por que, ao contrário de programas como o Fome Zero ou o Bolsa-Esmola, tem como foco ajudar os pobres a ajudar a si mesmos, num claro recado de que a caridade não combate a pobreza.É o desenvolvimento sem assistencialismo.
Em tempo: quando ministro da Educação do governo Lula, o então petista Cristovam Buarque visitou Yunus em Bangladesh e ficou encantado com o projeto.Na volta, chegou a oferecer o programa ao presidente que, diligentemente, preferiu investir no Bolsa-Familia. Sabedoria é isso.

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