"Não vote em quem descumpre a lei"

O recado de Marco Aurélio aos eleitores

Lucia Hippolito
Na história da jovem democracia brasileira – apenas 21 anos e cinco eleições presidenciais desde a Constituição de 1988 – nunca se viu um pronunciamento de presidente do TSE abrindo oficialmente a campanha eleitoral como ao que assistimos na noite de segunda-feira.
Em geral, eles ficam na mesmice: palavras de exaltação à festa da democracia, blábláblás sobre a importância do voto, rapapés ao regime. Mantêm-se olímpicos, recolhidos em suas redomas de magistrado.
Não foi o que se viu anteontem. O ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, fez um pronunciamento contundente, enérgico mesmo.
Semblante fechado, Marco Aurélio usou até os limites do que lhe é permitido pelo cargo para alertar os eleitores.
Pediu que prestem atenção à campanha, que investiguem a biografia e a experiência profissional dos candidatos que estão nas ruas pedindo voto. Só faltou dar nome e número dos corruptos, dos mensaleiros, dos sanguessugas, daqueles indiciados pelo procurador-geral por formarem a “sofisticada organização criminosa” que tentou tomar de assalto o Estado brasileiro, enfim, todos os que buscam o guarda-chuva do foro privilegiado para escapar da cadeia ou para se entregar a negócios escusos.
“Não vote em quem descumpre a lei. Quem não obedece à lei não merece respeito, muito menos o seu voto”, afirmou enfaticamente o presidente do TSE.
A Justiça Eleitoral tem perfeita noção do momento gravíssimo que estamos vivendo. Um Congresso povoado de sanguessugas e de mensaleiros, entre criminosos diversos, será um Congresso enfraquecido, sem legitimidade para enfrentar um Executivo brindado com uma robusta votação.
No presidencialismo, mesmo quando não há crises, o presidente da República – qualquer um – se sente mais legítimo que os parlamentares, porque foi eleito em eleição majoritária e recebeu um caminhão de votos. O tal “banho de urna” pode levar o presidente a acentuar eventuais tendências populistas, ou seja, autoritárias. Bonapartismo é o nome da coisa.
Por isso, o alerta do presidente do TSE é tão importante.
Mas é injusto jogar toda a responsabilidade nos ombros do pobre do eleitor. Isto porque o sistema eleitoral brasileiro conduz a sérias distorções da vontade do eleitorado.
Um eleitor pode votar no candidato mais honesto e acabar elegendo um desonesto, em virtude dos votos de legenda, das coligações nas eleições proporcionais e do mecanismo perverso de distribuição de sobras eleitorais.
Por isso, os partidos políticos devem assumir sua parcela de responsabilidade. Aqueles que escolheram conceder legenda a candidatos que devem satisfações à justiça não têm o direito de se espantar se o eleitor decidir votar em outros partidos.
Este é o principal recado: não vote em partido que não foi capaz de recusar legenda a mensaleiros, sanguessugas, candidatos indiciados pelo procurador-geral por formação de quadrilha, enfim, naqueles partidos que dão abrigo a uma gente que apenas busca o foro privilegiado para escapar da cadeia.
Pelo visto, foi mais ou menos isso que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral disse nas entrelinhas de seu incisivo pronunciamento da noite de segunda-feira. (Noblat)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu