Editorial

Vamos mal, muito mal...

O uso eleitoreiro que será feito da “Guerra do PCC” vai causar enjôos. Espere até que as campanhas políticas tomem conta do seu horário de lazer e você vai lembrar destas palavras. A desgraça de alguns será usada para alavancar carreiras políticas de velhos conhecidos, que prometem mundos e fundos. Promessas vãs no horário nobre, esse deveria ser o mote do horário político. Depois da eleição tudo ficará exatamente como está. Enquanto pagarmos setenta reais de juros por real investido em infra-estrutura, serpentes venenosas permanecerão em gestação nos infernos de exclusão que abrigam a maioria dos brasileiros. Segurança é assunto sério, lembro-me bem das palavras de FHC ao passar a faixa presidencial.
- Cuide da segurança ou você terá aborrecimentos, disse o “Príncipe dos sociólogos” ao novo Presidente, aquele que sabemos hoje é o melhor governante do universo. FHC sabia da natureza aguda do problema, embora pouco tenha feito para atenuá-la. O cerne da questão está no sistema carcerário, anacrônico e obsoleto. Assemelha-se ao inferno. O preso está preso para pagar com restrição de liberdade a falta cometida. Na teoria é assim, na prática é o que conhecemos. Sem perspectivas de vida, parte dos jovens acaba delinqüindo e ao fazê-lo encontra uma autêntica universidade do crime nas prisões superlotadas para onde vai. A reincidência é praticamente certa, ninguém sai sem seqüelas de uma temporada ociosa na cadeia. Com o aumento exponencial da população carcerária, que só não é maior por causa da demora no cumprimento dos mandados, a situação caótica ganha ares de tragédia. Desta vez todos sentimos o gostinho amargo da incerteza, mesmo vivendo longe das grandes cidades. O que nos espera amanhã? Só em São Paulo há um milhão de jovens sem trabalhar ou estudar. Quantos vão resistir ao apelo do dinheiro fácil da vida bandida? Fácil e efêmero, a maioria morrerá nas mãos da polícia ou de quadrilhas rivais. É muito desperdício de energia vital. Volto a dizer, o Brasil precisa encarar o problema de frente ante de ser engolido pela horda de desesperados que aumenta a cada dia. Segurança não é apenas questão de polícia, é também de educação, de saúde, de saneamento básico, de lazer e de trabalho digno para todos. Para conseguir que isso seja realidade é preciso fazer a moratória interna, parar de dar dinheiro aos banqueiros e investir na cidadania. Da forma como estamos vivendo, os que chafurdam e se lambuzam no ganho fácil não percebem que estão matando a galinha dos ovos de ouro. Amanhã restarão apenas os corvos que lhes arrancarão os olhos. O aviso foi dado de forma transparente e cristalina.

Sidney Borges

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