Opinião
Generalidades sobre educação
O Estado de S.Paulo - Editorial
Em seu primeiro pronunciamento oficial em cadeia de rádio e televisão, a presidente Dilma Rousseff se comportou mais como uma candidata do que como a nova presidente da República que anuncia suas políticas. A cadeia nacional de rádio e televisão foi convocada sob a justificativa de comemorar a abertura do ano letivo, apresentar a educação como uma das prioridades do governo e anunciar a criação do Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec). A ideia é oferecer ensino técnico aos estudantes da rede pública de ensino médio, por meio do Sistema S - que é formado pelas entidades sociais dos setores produtivos (agricultura, indústria, comércio, transportes e cooperativas) e mantido por uma contribuição de 2,5% sobre a folha salarial das empresas. Com isso, o ensino médio passaria a tempo integral.
Na campanha presidencial de 2010, a proposta foi defendida tanto por Dilma quanto por seu adversário José Serra (PSDB) - que reivindica sua autoria. Como o Pronatec até agora só foi esboçado e o projeto só ficará pronto dentro de um a dois meses, Dilma não tinha nada de substantivo para dizer em seu pronunciamento. O governo não definiu nem mesmo a fonte de financiamento do projeto - uma das possibilidades é a abertura de uma linha de financiamento do BNDES no valor de R$ 40 bilhões, que seriam usados para equipar as escolas; outra possibilidade seria negociar com o Sistema S o perdão de uma dívida - que não é reconhecida pelas confederações empresariais - em troca do aumento do número de vagas em cursos como os do Sesi e do Senac.
Por isso, a chefe da Nação acabou repetindo frases feitas sobre o papel do ensino básico, nos 5 minutos e 46 segundos de duração de seu discurso. "Nenhum país poderá se desenvolver sem educar bem o seu jovem e capacitá-lo plenamente para o emprego", afirmou Dilma. A educação é "a grande ferramenta de construção dos sonhos dos brasileiros"; é "a ferramenta para superarmos a pobreza e a miséria"; é "um desafio que somente será vencido se o governo e a sociedade se unirem de fato nessa luta, com toda força, coragem e convicção", disse a presidente - repetindo o que já falara durante a campanha eleitoral.
Além de prometer agilizar a implementação do plano nacional de banda larga e fazer do Pronatec uma espécie de ProUni do ensino técnico e profissionalizante, ela afirmou que vai corrigir as falhas que têm ocorrido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com o objetivo de recuperar a credibilidade dos mecanismos de avaliação. E também defendeu mais investimentos para a formação de professores e anunciou que irá ampliar o número de creches e pré-escolas e coibir a evasão escolar.
Em seu discurso, que foi orientado pelos publicitários João Santana e Marcelo Kertz, responsáveis por sua campanha à Presidência, Dilma disse que "a luta mais obstinada" do governo será o combate à miséria, mediante a ampliação do emprego e o aperfeiçoamento das políticas sociais. E, sobre um fundo verde-amarelo que substituiu a marca "Brasil, um país de todos", do governo Lula, ela anunciou o slogan de sua gestão - País rico é país sem pobreza. "Esse será o lema de arrancada do meu governo. Ele está aí para alertar permanentemente a nós do governo e a todos os setores da sociedade que só realizaremos o destino de grandeza do Brasil quando acabarmos com a miséria", disse ela.
No Palácio do Planalto, a troca de slogans foi justificada como uma estratégia de marketing para passar para a população a ideia de que o País teria mudado de patamar, podendo buscar padrões mais ambiciosos que a mensagem da igualdade social, enfatizada pelo governo Lula. Nos meios políticos, porém, a fala de Dilma e o lançamento de um novo lema foram interpretados como uma tentativa de contornar os efeitos negativos para a imagem do governo causados pelos problemas ocorridos com o Sistema de Seleção Unificada, nos primeiros dias da nova administração.
O primeiro pronunciamento em cadeia nacional de Dilma foi apenas um exercício de retórica, com muitos adjetivos e poucos substantivos.
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O Estado de S.Paulo - Editorial
Em seu primeiro pronunciamento oficial em cadeia de rádio e televisão, a presidente Dilma Rousseff se comportou mais como uma candidata do que como a nova presidente da República que anuncia suas políticas. A cadeia nacional de rádio e televisão foi convocada sob a justificativa de comemorar a abertura do ano letivo, apresentar a educação como uma das prioridades do governo e anunciar a criação do Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec). A ideia é oferecer ensino técnico aos estudantes da rede pública de ensino médio, por meio do Sistema S - que é formado pelas entidades sociais dos setores produtivos (agricultura, indústria, comércio, transportes e cooperativas) e mantido por uma contribuição de 2,5% sobre a folha salarial das empresas. Com isso, o ensino médio passaria a tempo integral.
Na campanha presidencial de 2010, a proposta foi defendida tanto por Dilma quanto por seu adversário José Serra (PSDB) - que reivindica sua autoria. Como o Pronatec até agora só foi esboçado e o projeto só ficará pronto dentro de um a dois meses, Dilma não tinha nada de substantivo para dizer em seu pronunciamento. O governo não definiu nem mesmo a fonte de financiamento do projeto - uma das possibilidades é a abertura de uma linha de financiamento do BNDES no valor de R$ 40 bilhões, que seriam usados para equipar as escolas; outra possibilidade seria negociar com o Sistema S o perdão de uma dívida - que não é reconhecida pelas confederações empresariais - em troca do aumento do número de vagas em cursos como os do Sesi e do Senac.
Por isso, a chefe da Nação acabou repetindo frases feitas sobre o papel do ensino básico, nos 5 minutos e 46 segundos de duração de seu discurso. "Nenhum país poderá se desenvolver sem educar bem o seu jovem e capacitá-lo plenamente para o emprego", afirmou Dilma. A educação é "a grande ferramenta de construção dos sonhos dos brasileiros"; é "a ferramenta para superarmos a pobreza e a miséria"; é "um desafio que somente será vencido se o governo e a sociedade se unirem de fato nessa luta, com toda força, coragem e convicção", disse a presidente - repetindo o que já falara durante a campanha eleitoral.
Além de prometer agilizar a implementação do plano nacional de banda larga e fazer do Pronatec uma espécie de ProUni do ensino técnico e profissionalizante, ela afirmou que vai corrigir as falhas que têm ocorrido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com o objetivo de recuperar a credibilidade dos mecanismos de avaliação. E também defendeu mais investimentos para a formação de professores e anunciou que irá ampliar o número de creches e pré-escolas e coibir a evasão escolar.
Em seu discurso, que foi orientado pelos publicitários João Santana e Marcelo Kertz, responsáveis por sua campanha à Presidência, Dilma disse que "a luta mais obstinada" do governo será o combate à miséria, mediante a ampliação do emprego e o aperfeiçoamento das políticas sociais. E, sobre um fundo verde-amarelo que substituiu a marca "Brasil, um país de todos", do governo Lula, ela anunciou o slogan de sua gestão - País rico é país sem pobreza. "Esse será o lema de arrancada do meu governo. Ele está aí para alertar permanentemente a nós do governo e a todos os setores da sociedade que só realizaremos o destino de grandeza do Brasil quando acabarmos com a miséria", disse ela.
No Palácio do Planalto, a troca de slogans foi justificada como uma estratégia de marketing para passar para a população a ideia de que o País teria mudado de patamar, podendo buscar padrões mais ambiciosos que a mensagem da igualdade social, enfatizada pelo governo Lula. Nos meios políticos, porém, a fala de Dilma e o lançamento de um novo lema foram interpretados como uma tentativa de contornar os efeitos negativos para a imagem do governo causados pelos problemas ocorridos com o Sistema de Seleção Unificada, nos primeiros dias da nova administração.
O primeiro pronunciamento em cadeia nacional de Dilma foi apenas um exercício de retórica, com muitos adjetivos e poucos substantivos.
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