Coluna do Rui Grilo

Encontros com a comunidade

Rui Grilo
Nesta semana uma amiga de Sorocaba me enviou uma mensagem em PowerPoint. Dizia que um pai tinha quatro filhos e queria ensiná-los a não ter julgamentos precipitados. Pediu a cada um deles para observar uma pereira, cada um em uma época do ano. Depois, reuniu os quatro e pediu que relatassem suas impressões.

Cada um deles teve uma impressão diferente porque um viu apenas o tronco e os galhos sem folhas; outro viu apenas com folhas; o terceiro viu com flores e o último viu-a carregada de frutas.

Dialogando com eles mostrou o quanto a nossa percepção é limitada e depende do momento em que observamos o objeto. E o quanto a percepção de cada um completava a visão do outro.

Assim, cada um de nós que moramos e vivemos nesta cidade, temos uma visão parcial da situação e que é muito diferente da visão que o turista tem. Para mim, não dava para aceitar ver mulheres caindo com crianças no colo, situação que poderia ser resolvida com um simples cimentado ou outra cobertura antiderrapante. Era uma superfície de cerca de 15 m de comprimento, mas que se trata de uma íngreme ladeira que liga a Pedreira baixa com a alta e que dá acesso à única creche do bairro. A falta de uma solução para um problema tão simples só se explica pela falta de vontade política do prefeito e/ou equipe.

Não dá para aceitar continuar a ver pessoas sendo atropeladas pela má educação de motoristas e falta de percepção das autoridades de que a colocação de lombadas seria uma forma de reduzir esses acidentes e mortes. É terrível constatar que essa medida eficaz só ocorreu depois da morte de uma criança. Mas não de qualquer criança. Era parente de um conhecido radialista amigo do prefeito. E mesmo assim, só aconteceu porque o povo, cansado do pouco caso, fechou a BR-101.

Quando o homem passa a viver na polis – cidade – torna-se necessário a construção de acordos para superar a barbárie, a resolução de conflitos pela força bruta. O espaço para a construção dos acordos era a ágora. “A ágora manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro para comprar coisas nas feiras, onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania.”* “A palavra ágora se originou do verbo agorien, que no século VIII a.C significava discutir, deliberar, tomar decisões.”** E os povos que não tem o costume de se reunir na praça eram considerados bárbaros.

Sendo a cultura grega uma das bases principais da nossa cultura, é necessário retomar essa saudável atitude de discutir a cidade e as relações. Mas como as cidades cresceram, é preciso uma adaptação às condições atuais. Assim, várias cidades vem constituindo movimentos e fóruns para identificar os principais problemas, propostas de soluções e metas. Essa é a proposta do Movimento Ubatuba em Rede ao iniciar a construção dos Encontros com a Comunidade. A proposta começou a viabilizar-se a partir do encontro realizado em novembro para discutir a questão do lixo e do transbordo, quando pudemos contar com relatos de experiências de outros municípios e a presença de um público bem variado e interessado.

Em seguida, fomos procurados por jovens para discutir a questão da pista de skate. Em 20/12/10 realizamos um seminário sobre juventude, o qual, a pedido, deverá ter continuidade no dia 21/02 às 19 h na Câmara Municipal.

Dessa articulação já fazem parte a Fundação Alavanca, o Instituto da Árvore, a APEOESP, o PV, o PTB, o PT e o PV. Estamos abertos ao diálogo com todas as forças vivas da cidade e que desejam compartilhar esforços para que nossa cidade tenha melhores perspectivas.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

*http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gora
**http://www.klepsidra.net/klepsidra26/agora.htm

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