Opinião

O novo xadrez econômico

Editorial do Estadão
Formado pelas maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, o Grupo dos 20 (G-20) parece consolidar-se como principal fórum financeiro e econômico internacional. A maior crise desde os anos 30 produziu pelo menos esse resultado positivo: forçou as velhas potências capitalistas, antes fechadas num clube de sete membros, a partilhar decisões de alcance global com parceiros emergentes de todos os continentes. O sistema se tornou não apenas mais democrático, mas também mais eficiente, segundo avaliação do presidente da Coreia, Lee Myung-Bak. Ele assumirá em novembro a presidência do grupo. A reunião de novembro, em Seul, completará a transição do G-7 para o G-20, disse o presidente coreano em Davos, num encontro com empresários e jornalistas. Antes disso, em junho, o Canadá hospedará conferências paralelas dos dois grupos. O primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, anunciou a intenção de pôr no topo da agenda do G-7 um programa de saúde para mulheres dos países mais pobres.

O otimismo quanto ao papel do G-20 como principal fórum econômico e financeiro parece hoje mais justificável do que há um ano. O desempenho dos emergentes durante a crise, muito melhor que o dos países mais avançados, consolidou a presença de novos grandes atores, incluído o Brasil, no mercado internacional. Dificilmente essa recomposição do tabuleiro deixaria de afetar a distribuição mundial de poder.

Mas ainda falta nitidez ao novo cenário. As potências emergentes conquistaram peso econômico, visibilidade e influência. China, Índia, Brasil, México, África do Sul e Indonésia, no entanto, estão longe de formar, quanto a seus valores e objetivos, um bloco tão coeso e articulado como o G-7 (EUA, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália).

A atuação dos emergentes na Rodada Doha de negociações comerciais explicitou importantes conflitos de interesse. Índia e Brasil ficaram em lados opostos quando se tratou de oferecer concessões. Os negociadores brasileiros não conseguiram sequer entender-se com os argentinos, apesar de parceiros no Mercosul. Todos esses países podem formar uma categoria, por suas características comuns, mas certamente não formam um bloco. Em termos de articulação e de esquemas de cooperação, a vantagem permanece do lado das potências tradicionais. A absorção do G-7 pelo G-20 não elimina esse fato.

Além disso, um dos emergentes, a China, distanciou-se dos outros nas últimas duas décadas e ainda mais durante a crise global. A economia chinesa superou a alemã como maior exportadora e pode tomar do Japão, em breve, a posição de segunda maior potência do globo.

Uma das sessões mais concorridas do Fórum Econômico Mundial foi dedicada ao exame da relação entre EUA e China. Há fricções importantes entre os dois países, mas há também uma simbiose, sustentada pelo comércio bilateral e pela condição da China como maior credora externa do Tesouro americano. Também essa parceria pode afetar a configuração do poder econômico.
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