Opinião

O que o PT quer de Dilma

Editorial do Estadão
A versão preliminar do projeto do PT para um eventual governo Dilma Rousseff, a ser aprovado no 4º Congresso Nacional do partido, logo depois do carnaval, quando a ministra será sagrada herdeira do presidente Lula, é uma espécie de PAC político. Junta alguns dos objetivos clássicos do petismo - a começar da expansão da presença do Estado na economia - com a preocupação de privilegiar a ideologia como força motriz da "grande transformação" que dá título ao documento. Dilma, encarnando o pós-Lula, seria uma presidente mais ortodoxa do que o seu patrono - uma posição que não lhe seria difícil assumir, a julgar por sua formação, trajetória e personalidade.

"O programa é mais à esquerda do presidente Lula, mas não é mais esquerdista", diz o deputado Ricardo Berzoini, presidente do PT. "Isso significa que poderemos cumprir agora os objetivos sociais mais ambiciosos, porque as grandes questões macroeconômicas, como a dívida interna, ou foram solucionadas ou estão equacionadas." Se o plano fosse além das generalidades, seria mais fácil avaliar se esses objetivos são compatíveis com os fundamentos macroeconômicos mantidos por Lula ou, se não forem, de que lado arrebentará a corda. De qualquer forma, o espírito do novo "projeto nacional de desenvolvimento" não é menos triunfalista do que a retórica do presidente - que só irá se intensificar para converter a sua popularidade em sufrágios para a candidata que pinçou, à falta de alternativas.

"O Brasil deixou de ser o país do futuro", proclama a carta de intenções petista, divulgada por este jornal. "O futuro chegou." Fortalecido por uma "burocracia de alta qualidade", o Estado dirigista teria condições de capitanear um ciclo presumivelmente duradouro de crescimento acelerado, com investimentos públicos pesados e gastos sociais robustos. "A elevação das taxas de crescimento deverá marcar o governo Dilma", prevê o partido, com "mais empregos, renda e bem-estar social". Em consequência, "programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família, perderão a importância que têm", ousa o documento, talvez numa tentativa de responder às críticas da oposição segundo as quais esses programas não preveem portas de saída.

O PT não está preocupado em explicar como ocorrerá "a grande transformação" ou de onde virão os recursos para ter um SUS de qualidade e expandir o orçamento da educação, como propõe o texto. Basta-lhe afirmar que, sob Dilma, o Brasil terá tudo isso e o céu também. Não se equivocará quem encontrar nesse palavreado ecos do "ninguém segura este país" da ditadura militar. Como o papel aceita tudo, o programa promete ainda "melhor condição de vida nas grandes cidades" - nome de um dos seus 13 "eixos" -, com mais linhas de metrô, veículos leves sobre trilhos e corredores de ônibus. Pelo visto, Dilma seria presidente, governadora e prefeita. Mas a invasão retórica das atribuições dos poderes estaduais e municipais tem endereço certo. O PT precisa dos votos da nova classe média.
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