Opinião

O fiasco do Enem

Editorial do Estadão
As dificuldades enfrentadas pelos candidatos para se inscrever pela internet no Sistema de Seleção Unificada, com o objetivo de usar as notas obtidas no Enem para garantir matrícula na rede pública de ensino superior, constituem mais uma demonstração de incompetência da burocracia do Ministério da Educação (MEC) e das confusões causadas pela tentativa do ministro Fernando Haddad de converter a reforma dos mecanismos de avaliação em bandeira política, com vistas às eleições deste ano.

As autoridades educacionais alegaram que o sistema de informática do MEC não suportou a sobrecarga de tentativas de acesso, a partir da noite de sexta-feira. Por ironia, esse foi o mesmo argumento que elas invocaram no início do segundo semestre de 2009, quando o órgão decidiu que a inscrição no Enem e a utilização das notas para substituir o exame vestibular seriam feitas pela internet. Mais de seis meses após o aparecimento do problema, fica evidente que o MEC ainda não conseguiu equacioná-lo. Em outras palavras, ele tentou reformular radicalmente o sistema de avaliação do ensino médio sem, como agora se vê, ter infraestrutura capaz de dar conta da empreitada.

Além dos problemas de informática, o MEC fracassou ao planejar as provas. Isso ficou evidente quando o órgão determinou que vários estudantes deveriam prestar o Enem em colégios situados a mais de 300 quilômetros das escolas em que estão matriculados, o que deixou pais e professores revoltados com tanta inépcia administrativa. Em seguida, a prova vazou dois dias antes de sua realização, em outubro, deixando claro que as autoridades educacionais também não haviam tomado as medidas de segurança necessárias. Isso as obrigou a preparar um novo teste às pressas, a um custo superior a R$ 30 milhões, e a aplicá-lo dois meses após a data prevista, o que desorganizou o calendário de muitas universidades.

Na sequência de confusões, constatou-se em seguida que várias questões da nova prova tinham nítido viés político e ideológico, tendo de ser anuladas. No dia em que a prova foi finalmente realizada, o MEC chegou ao absurdo de divulgar o gabarito errado. E agora, além de reclamar das dificuldades que estão enfrentando para acessar o site das universidades federais, os alunos relatam graves falhas na correção das provas do Enem - a ponto de um estudante que fez uma redação de apenas quatro linhas ter tirado boa nota.

Pelos planos do MEC, o novo formato do Enem foi concebido como principal critério de distribuição de 47,9 mil vagas em 51 instituições públicas de ensino superior. Mas, embora a medida tenha sido bem recebida nos meios escolares, por causa de interesses políticos ela acabou sendo implementada de modo açodado e desastrado - o que converteu o Enem num enorme fiasco. Por causa das sucessivas confusões do MEC, a prova teve uma abstenção de quase 40% dos inscritos - a maior já registrada desde sua criação, em 1998.
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