Pensata

Tarde quente

Sidney Borges
Hoje foi um dia quente, muito quente. No momento em que comecei a escrever caía uma chuvinha leve e bem vinda. Pensei, tomara que aplaque a canícula. Leio no Twitter que Nova Iorque está com - 4ºC e sensação térmica de - 10ºC. Essa coisa de "sensação térmica" pega marinheiros de primeira viagem, aconteceu comigo. A primeira vez que senti frio pra valer foi na Argentina. Tenho lembranças da infância em São Paulo onde de vez em quando geava. Meu pai me chamou um dia para ver o gelo depositado na grama do jardim. Mas era coisa passageira e rara.

Na Argentina, em 1976, perto de Mendoza, na estrada que leva ao Chile, senti o significado de - 10ºC. Com sol e tudo. Não foi tão desagradável, obviamente eu estava vestido de forma adequada. Já em Cambridge, na Inglaterra, onde morei entre 1999 e 2000, mesmo em dias em que o termômetro tinha leituras positivas o vento do Mar do Norte se encarregava de tornar a vida difícil.

No domingo de carnaval de 2000 eu estava em Edimburgo, na Escócia, pensando em Ubatuba. O clima escocês é surpreendente, chove, venta com granizo, venta sem granizo e em seguida neva. Tudo na mesma tarde. Nesse domingo jogavam Escócia e França pelo campeonato europeu de Rugby, a cidade estava lotada de torcedores animados. Parecia carnaval. E era domingo de carnaval.

Nuestros hermanos argentinos tem o hábito de ir à rua dos cinemas quando recebem o pagamento. Não sei se ainda fazem isso, em 1976 faziam. Passeando por Buenos Aires e sem saber do hábito, de repente me vi em meio a um aglomerado inimaginável.

Não gosto de multidões. Nos obrigam a ir aonde o fluxo manda. Parecido com saídas de estádios. Depois de muita luta consegui alcançar a segurança da calçada e caminhar junto das fachadas.

Foi quando três Ford Falcon pretos, dos órgãos de repressão, entraram na rua com as sirenes ligadas, abrindo caminho no estilo quegra-gelo dos documentários do Discovery, comprimindo as pessoas. Puro sadismo. Por sorte ninguém morreu, houve feridos. Escapei entrando em uma "arqueria", na época moda em Buenos Aires. Tiro ao alvo com arco e flecha, alvos fixados em sacos de areia pendurados.

Sentei-me para escrever quando a chuva começou, neste exato momento já não chove, o calor continua "senegalesco" e o sol brilha no firmamento. Nunca estive no Senegal, diz a música que lá é legal ser negão. Deve fazer muito calor no Senegal. Li num blog supostamente à esquerda, que em Cuba é permitido viajar e as pessoas não viajam porque não têm dinheiro e que nos países do capitalismo decadente só viaja a classe dominante.

Besteira. A Blogueira Yoani Sánchez foi proibida de vir ao Brasil receber um prêmio. Com tudo pago. No Brasil, país capitalista e não decadente, viajar é permitido e viaja quem quiser, de qualquer classe, é só ter vontade, determinação e economizar para tanto. Em qualquer aeroporto dá pra ver a massa viajando, alguns têm tanta gente em trânsito que parecem rodoviárias. Gosto de ver o povo com dinheiro e liberdade. Em Cuba, saiba o escriba desinformado, é proibido viajar para fora das fronteiras. Com uma ressalva, o povo não pode, a elite do partido pode e viaja. E compra bugigangas capitalistas. Tenho de parar, meu cachorro quer passear. Vai passear. Vou junto.

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