Coluna da Segunda-feira

Conferência Nacional de Comunicação - O que vamos fazer?

“finalmente a comunicação está se transformando em objeto de discussão, isto é, está entrando na agenda pública, algo que a grande mídia sempre tentou boicotar em nosso país.” (Venicio A. de Lima)

Rui Grilo
Um dos sinais dessa mudança é a multiplicação de documentos para subsidiar as discussões. No site www.pol.org.br do Conselho Federal de Psicologia já está disponível a cartilha “Contribuição da Psicologia para o fim da publicidade dirigida à criança”, elaborada pelo pesquisador Ives de La Taille.

Frequentemente ouvimos que há muito blá blá blá mas nada de concreto; que nada muda, que o mundo é sempre o mesmo. No entanto, ao verificarmos as estatísticas, não há como negar a grande mudança que houve em pequeno espaço de tempo, principalmente no final do século XIX e século XX. Só para exemplificar, enquanto a expectativa média de vida em 1950 era de 51 anos, hoje, é de 71 anos. Até dez anos atrás era quase impensável a idéia de que o acesso aos remédios é um direito de todos. Hoje, já vemos pessoas recorrerem à promotoria pública para garantir o direito de receberem remédios que não podem comprar, demonstrando com essa atitude o grau de consciência a que estamos chegando.

Apesar de todos os problemas que nós, brasileiros, enfrentamos na área da saúde, é inegável uma grande evolução no atendimento.

Essa evolução representa não só o avanço da ciência e da economia mas também o avanço da luta e da organização popular. O Movimento de Saúde foi um dos pioneiros na luta pela democratização, fiscalização e acompanhamento do atendimento público, exigindo a instalação dos conselhos de saúde paritários nos postos. Essa experiência evoluiu, com a realização das Conferências Nacionais, precedidas por instâncias municipais e estaduais, para as quais se elegiam delegados e se definiam prioridades. A participação nessas conferências serviu de formação para a participação crítica do cidadão servindo de modelo para conselhos mais amplos e para a construção da proposta do orçamento participativo.

No entanto, o mesmo não ocorreu com a comunicação. Se ela tivesse o mesmo grau de atenção que a saúde, provavelmente o grau de consciência e de participação da sociedade estaria muito mais desenvolvido.

Venicio Lima, jornalista e sociólogo, pesquisador sênior da Universidade de Brasília e Armando Rollemberg, da Federação Nacional de Jornalistas – FENAJ - que participaram da Comissão de Comunicação da Constituinte de 1988, relataram que foi a única comissão que não chegou a um texto comum devido ao lobby das empresas, chegando a derrubar sua relatora, o que, segundo eles, trouxe danosas conseqüências.

Em seu texto “A ficha está caindo”, publicado no Guaruçá de 24/07, verifiquei que Venicio tem a mesma opinião minha : que os sindicatos não viam a relevância do tema comunicação e o enorme potencial estratégico da comunicação sindical na disputa da hegemonia de propostas para a organização da sociedade. Quase todos os sindicatos têm seu veículo de comunicação, às vezes até diários, mas se limitam às disputas internas e às reivindicações da categoria. Se unissem as forças teriam condições de criar competentes equipes para cobrir, refletir e difundir os grandes temas nacionais e que interferem na melhoria das condições de vida de toda a população. Como o próprio Venício aponta, já há algumas experiências nesse sentido. A própria convocação da Conferência Nacional da Comunicação tem como uma das organizadoras a CUT, vários sindicatos e outras organizações da sociedade civil, as quais começam a veicular textos e propostas a serem discutidos. A cartilha citada no início deste texto é um exemplo dessas iniciativas.

No entanto, como essa temática não é veiculada pelas grandes redes de comunicação e como o movimento sindical aqui em Ubatuba é muito incipiente, sobra como recurso a internet, à qual nem todos tem acesso. Mas é melhor acender um palito que permanecer na escuridão.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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