Opinião

A concordata da GM

Editorial do Estadão
Junho começou com otimismo nas bolsas americanas, como se o mercado festejasse novidades muito animadoras. Mas a grande notícia prevista para o dia 1º e confirmada logo de manhã não era nada animadora: a General Motors (GM) pediu concordata em Nova York. A empresa, maior produtora de automóveis do mundo até o ano passado, fechará 14 fábricas até 2011. Nos próximos 40 dias terá de transferir seus ativos para uma nova empresa, controlada pelo governo dos Estados Unidos e com participação minoritária de trabalhadores e credores. Havia, sem dúvida, motivo para comemoração: com mais US$ 30 bilhões do Tesouro americano, US$ 9,5 bilhões do governo canadense e mais a conversão de dívidas em ações, seria possível salvar da ruína um dos símbolos do poderio industrial americano. Outro símbolo, a Chrysler, em concordata desde 30 de abril, já havia sido salvo no último instante. Esta recessão, descrita por muitos como a mais severa do segundo pós-guerra, tem arrasado vários dos grandes ícones do capitalismo, aí incluídos os maiores bancos. Este detalhe é uma das marcas da crise atual: os erros, desta vez, foram bastante graves para abalar seriamente grupos considerados, até há pouco tempo, quase indestrutíveis.

A grande concordata desta segunda-feira mereceu discurso do chefe de governo. O colapso da GM e da Chrysler "seria devastador para o país", disse o presidente Barack Obama, justificando a intervenção oficial nas duas companhias. O socorro, lembrou o presidente, vai ter um custo elevado para os cidadãos, mas a alternativa, segundo ele, seria muito pior. Mas o socorro a essas grandes empresas não encerra os problemas: "Dias difíceis estão à frente", disse Obama. "Mais empregos serão perdidos, mais fábricas serão fechadas, mais revendedores fecharão suas portas, assim como muitos fornecedores de autopeças."

O governo, segundo o presidente, é "um acionista relutante" e não tentará administrar o dia a dia da GM. A condução da tarefa será entregue a um executivo, Al Koch, especializado em reestruturar empresas. Ele já ajudou a companhia a renegociar com os credores a conversão de seus créditos em ações.

Seria perda de tempo discutir se o governo americano deveria ou não permitir a quebra de alguns dos maiores grupos bancários e industriais do país. Essa decisão poderia satisfazer o senso de justiça de algumas pessoas, mas o custo seria excessivo para dezenas de milhões de outras. O governo pode ser um acionista relutante, como disse o presidente dos Estados Unidos, mas sua omissão produziria, certamente, consequências dolorosas. O mesmo argumento pode justificar as ações - ou boa parte delas - de vários governos europeus.

Mas não basta salvar as empresas "grandes demais para quebrar". Se os governos se limitarem a resgatar os grandes grupos, estarão alimentando o risco moral mais do que em qualquer episódio anterior. Desta vez, o desastre atingiu alguns dos maiores bancos suíços e alguns dos maiores americanos, como o Citibank, e indústrias do porte da GM, da Opel e da Chrysler. Isto só foi possível porque os padrões administrativos atingiram níveis de lassidão inadmissíveis na maior parte das empresas. A crise financeira pode ter devastado companhias bem administradas, mas sem condições de resistir a pressões tão fortes. Mas esse não é o caso das grandes indústrias socorridas pelos governos nem dos bancos classificados, tradicionalmente, como de primeiríssima linha.
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