Quarta-fria

O frio, quem ligou o frio?

Sidney Borges
Céu azul, dia luminoso e sensação térmica estranha aos padrões ubatubanos, está fazendo frio. Para mim é uma espécie de recordação, estou acostumado, São Paulo, onde passei a maior parte da vida é uma cidade fria. Já foi mais, lembro-me da década de 1960. Certo dia fui com um amigo buscar o irmão na Estação Roosevelt, no Largo da Concórdia. Era junho, o incauto viajante saiu do Rio de Janeiro desprevenido, sem agasalho à mão. Desembarcou em uma manhã especialmente gélida, segundo os jornais a mais fria do ano. Lembro-me de olhos arregalados de susto. O cara quis voltar imediatamente enquanto tremia e gritava aos quatro ventos que não era pinguim. Foi engraçado, as pessoas em volta interpretaram como performance e aplaudiram. Hoje nem sei se ainda é possível ir ao Rio de Janeiro de trem. Viagem romântica, vagões Pullman de filme antigo, corredor enfumaçado, Humphrey Bogart passando furtivamente de jaquetão e cigarro no canto da boca. Artistas e políticos eram encontradiços no bar do expresso noturno onde bebericavam e conversavam até o sono bater. Tenho lido sobre a licitação do trem-bala que circulará no futuro entre as duas metrópoles. Vai demorar, se eu escapar do enfarte, do câncer, do diabetes, das balas perdidas e das bicicletas na contra-mão certamente farei a viagem. Fico torcendo para que seja construído um ramal passando por Ubatuba, se bem que daqui a dez anos nem sei onde estarei. Desde que deixei a casa paterna meus ciclos são de onze anos. Mantida a praxe, faltam três para a partida. Navegar é preciso...

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