Coréia atômica

Análise: Kim Jong-il, o playboy sedento por sexo

HÉLIO SCHWARTSMAN (original aqui)
O ditador norte-coreano Kim Jong-il costuma ser pintado pela mídia internacional ora como um playboy sedento por sexo e conhaque, ora como um louco homicida em busca de armas atômicas. Ele parece de fato estar empenhado em construir um arsenal nuclear, mas dificilmente pode ser tachado de louco.


Muito pelo contrário, o "grande líder" --como se faz chamar pela mídia--, tende a ser um jogador bastante racional, que costuma a apostar --e ganhar-- com lances ousados. Foi assim que instituiu a política de chantagem atômica, pela qual negociava recuos em seu programa bélico em troca de ajuda financeira, apenas para, algum tempo depois, lançar uma nova ameaça e barganhar um novo preço.

Tal padrão explica em parte o mais recente teste nuclear do "intimorato líder" --mais uma das alcunhas de Kim. Desta vez, contudo, há indicações de que razões domésticas foram determinantes.


A própria nota oficial divulgada por Pyongyang dá a pista: "O teste nuclear, coroado de êxito, inspira fortemente o Exército e o povo da República Popular Democrática da Coreia a prosseguir em sua campanha (...), intensificando os esforços para promover uma nova onda revolucionária e para abrir as portas para uma nação próspera".

Embora seja difícil distinguir entre fatos, rumores e manobras de contrainteligência na Coreia do Norte, acredita-se que Kim esteja preparando sua própria sucessão. Ele teria sofrido um AVC (acidente vascular cerebral) em agosto último e, confrontado com a própria mortalidade, estaria tomando as medidas necessárias para entronizar seu filho mais novo, Kim Jong-un, no poder.

A fim de garantir uma transição tranquila, ele estaria cortejando os militares de linha dura, os únicos que poderiam frustrar seus planos de perpetuar a terceira geração dos Kim no comando do país.


Mais do que agrados, o "grande sucessor da causa revolucionária" --outro de seus apelidos-- está, segundo a imprensa sul-coreana, promovendo uma verdadeira razia entre as fileiras dos chamados liberais norte-coreanos. Membros do governo que se colocaram a favor da cooperação com a Coreia do Sul e o Ocidente teriam sido presos ou afastados de suas posições e enviados para um período de reeducação. Um desses moderados teria até mesmo sido fuzilado.

Verdadeiras ou não, o simples fato de essas informações estarem circulando é um indício de que Pyongyang pretende jogar mais duro e tornar-se membro oficial do clube nuclear, hoje composto por EUA, Rússia, França, Reino Unido, China (os vencedores da 2ª Guerra Mundial), mais Índia, Paquistão e Israel.

Não haveria razão para o racional Kim não agir dessa forma. Além de o esquema de chantagem atômica ter funcionado bem até aqui, os EUA e o Ocidente por vezes até recompensam os países que ignoram a política de não proliferação e desenvolvem armamento nuclear, como é o caso de Israel e da Índia.

O pior é que avanços no campo da contenção atômica esbarram na própria estrutura do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TPN), que pretende eternizar duas categorias de países, uns com direito a armas e outros sem. É o tipo da coisa que não vai dar certo.

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