Opinião
Uma Petrobrás para Lula
Editorial do Estadão
Chávez manda na PDVSA mais do que Lula manda na Petrobrás. Talvez o presidente brasileiro inveje o colega venezuelano e as palavras ditas em Salvador, no encontro de terça-feira, fossem mais sérias do que pareceram naquele momento: "Se eu conseguir eleger a Dilma, vou ser presidente da Petrobrás", disse Lula. E completou: "Você, Gabrielli, vai ser meu assessor e o acordo vai sair." O tom foi de brincadeira, mas convém desconfiar da aparência. O acordo entre as duas empresas para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está emperrado. O principal obstáculo não é a disposição de Lula, mas a insistência de Sérgio Gabrielli, o chefe da estatal brasileira, em respeitar, em primeiro lugar, os interesses financeiros e econômicos da empresa e de seus acionistas. O presidente brasileiro, ao contrário, tem-se mostrado quase sempre inclinado a usar as companhias controladas pelo Tesouro para os objetivos de sua diplomacia. Nem as empresas privadas têm ficado imunes a essa perigosa mistura de política e negócios. Ameaçadas por barreiras comerciais impostas por vizinhos, não recebem apoio do governo, mas conselhos para se acomodar, negociar e não criar conflitos.
Lula nem chegou perto dos extremos a que chegou Hugo Chávez, mas nunca renunciou a politizar a gestão das estatais. Desde o começo de seu mandato, pressionou a Petrobrás para fazer encomendas a estaleiros nacionais, como se a empresa, além de trabalhar pela segurança energética do País, ainda tivesse de funcionar como instrumento de uma extemporânea política de substituição de importações. As tentativas de ingerência aumentaram com a descoberta do pré-sal, quando o presidente chegou a tratar a Petrobrás como se a sua gestão fosse incompatível com a defesa dos interesses nacionais.
Em seu esforço para politizar a gestão econômica, o presidente Lula chegou a se intrometer na administração de grandes empresas privatizadas, pressionando seus diretores para mudar decisões empresariais. O último episódio desse tipo foi a crítica ao anunciado corte de investimentos da Vale, como se o assunto fosse da alçada do chefe do governo.
Se o intervencionismo de Lula não se equiparou, até agora, ao do companheiro Hugo Chávez, não foi por falta de tentativas nem de apoio dos grupos mais fisiológicos e mais primitivos da chamada esquerda brasileira, abrigada em boa parte sob a bandeira do PT.
Em vez de continuar tentando comandar a Petrobrás e outras empresas, controladas ou não pelo Tesouro Nacional, o presidente Lula deveria prestar mais atenção às consequências do uso político da PDVSA.
A produção diária de petróleo na Venezuela caiu de 3,4 milhões de barris em 1999 para pouco mais de 2 milhões atualmente. Nesse intervalo, o país foi prejudicado tanto pelo afastamento de empresas estrangeiras quanto pela redução dos investimentos da estatal venezuelana. Abandonou-se a gestão baseada em padrões empresariais e subordinou-se a companhia aos objetivos políticos do caudilho venezuelano.
O aumento dos preços do petróleo permitiu a Chávez, durante anos, financiar sua ação populista, abrir caminho para prolongar sua permanência no poder e ainda sustentar a difusão do bolivarianismo nas áreas politicamente menos desenvolvidas da América Latina. Durante longos anos, o investimento produtivo foi esquecido na Venezuela - e não só no setor petrolífero. Quando os preços do petróleo caíram e o endividamento da PDVSA se tornou assustador, a solução encontrada por Chávez foi estatizar as companhias credoras, começando pelas fornecedoras de serviços na área do Lago Maracaibo.
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Editorial do Estadão
Chávez manda na PDVSA mais do que Lula manda na Petrobrás. Talvez o presidente brasileiro inveje o colega venezuelano e as palavras ditas em Salvador, no encontro de terça-feira, fossem mais sérias do que pareceram naquele momento: "Se eu conseguir eleger a Dilma, vou ser presidente da Petrobrás", disse Lula. E completou: "Você, Gabrielli, vai ser meu assessor e o acordo vai sair." O tom foi de brincadeira, mas convém desconfiar da aparência. O acordo entre as duas empresas para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está emperrado. O principal obstáculo não é a disposição de Lula, mas a insistência de Sérgio Gabrielli, o chefe da estatal brasileira, em respeitar, em primeiro lugar, os interesses financeiros e econômicos da empresa e de seus acionistas. O presidente brasileiro, ao contrário, tem-se mostrado quase sempre inclinado a usar as companhias controladas pelo Tesouro para os objetivos de sua diplomacia. Nem as empresas privadas têm ficado imunes a essa perigosa mistura de política e negócios. Ameaçadas por barreiras comerciais impostas por vizinhos, não recebem apoio do governo, mas conselhos para se acomodar, negociar e não criar conflitos.
Lula nem chegou perto dos extremos a que chegou Hugo Chávez, mas nunca renunciou a politizar a gestão das estatais. Desde o começo de seu mandato, pressionou a Petrobrás para fazer encomendas a estaleiros nacionais, como se a empresa, além de trabalhar pela segurança energética do País, ainda tivesse de funcionar como instrumento de uma extemporânea política de substituição de importações. As tentativas de ingerência aumentaram com a descoberta do pré-sal, quando o presidente chegou a tratar a Petrobrás como se a sua gestão fosse incompatível com a defesa dos interesses nacionais.
Em seu esforço para politizar a gestão econômica, o presidente Lula chegou a se intrometer na administração de grandes empresas privatizadas, pressionando seus diretores para mudar decisões empresariais. O último episódio desse tipo foi a crítica ao anunciado corte de investimentos da Vale, como se o assunto fosse da alçada do chefe do governo.
Se o intervencionismo de Lula não se equiparou, até agora, ao do companheiro Hugo Chávez, não foi por falta de tentativas nem de apoio dos grupos mais fisiológicos e mais primitivos da chamada esquerda brasileira, abrigada em boa parte sob a bandeira do PT.
Em vez de continuar tentando comandar a Petrobrás e outras empresas, controladas ou não pelo Tesouro Nacional, o presidente Lula deveria prestar mais atenção às consequências do uso político da PDVSA.
A produção diária de petróleo na Venezuela caiu de 3,4 milhões de barris em 1999 para pouco mais de 2 milhões atualmente. Nesse intervalo, o país foi prejudicado tanto pelo afastamento de empresas estrangeiras quanto pela redução dos investimentos da estatal venezuelana. Abandonou-se a gestão baseada em padrões empresariais e subordinou-se a companhia aos objetivos políticos do caudilho venezuelano.
O aumento dos preços do petróleo permitiu a Chávez, durante anos, financiar sua ação populista, abrir caminho para prolongar sua permanência no poder e ainda sustentar a difusão do bolivarianismo nas áreas politicamente menos desenvolvidas da América Latina. Durante longos anos, o investimento produtivo foi esquecido na Venezuela - e não só no setor petrolífero. Quando os preços do petróleo caíram e o endividamento da PDVSA se tornou assustador, a solução encontrada por Chávez foi estatizar as companhias credoras, começando pelas fornecedoras de serviços na área do Lago Maracaibo.
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