Opinião

Vandalismo na favela

Editorial do Estadão
Para quem viu pelos telejornais os atos de vandalismo nas proximidades da Favela Paraisópolis, nesta segunda-feira, o que mais chocou foi a cena de homens destruindo carros estacionados, dando marretadas nos vidros, arrancando as portas, saqueando seus aparelhos de som ou o que mais houvesse em seu interior, e depois ateando fogo nos veículos, enquanto a pouquíssimos metros dali vários policiais, em suas viaturas, motos ou fora delas, pareciam aguardar os acontecimentos, sem interferir. As razões daquela inação eram tão incompreensíveis quanto o ataque furioso - o puro vandalismo que não protestava nem reivindicava, apenas destruía. E chocava aquela demonstração explícita de impotência, de inutilidade de forças policiais que se supõem capazes de reagir para coibir o desrespeito à lei, à ordem pública, à integridade física e ao patrimônio dos cidadãos.


Foi um grupo de cerca de 40 pessoas que entrou em confronto com a Polícia Militar (PM) por volta das 17 horas, na Avenida Giovanni Gronchi, próximo da Favela Paraisópolis, na zona sul de São Paulo - na vizinhança do bairro do Morumbi. Os manifestantes queimaram pneus, sacos de lixo e pedaços de madeira, formando barricadas e amarrando postes com correntes para interditar as vias de acesso à favela. De acordo com a PM, pelo menos oito veículos foram depredados. Seis adultos e três adolescentes (apenas um com passagem anterior pela polícia, por furto) foram presos. Ainda segundo a polícia, o conflito começou quando os jovens tentaram fechar a Avenida Giovanni Gronchi e a Rua Doutor Francisco Tomás Carvalho. "Não era uma manifestação, não queriam conversa, eram baderneiros, praticando atos de vandalismo", resumiu o capitão Eliezer Klinger Soares Fernandes, do 16 º Batalhão de Polícia Metropolitano, que atendeu à ocorrência, pouco antes de ser baleado no abdome e seguir para atendimento no Hospital Albert Einstein, na região. Mais dois PMs foram feridos a bala.

Como costuma acontecer em episódios semelhantes, a versão da polícia sobre a causa da manifestação não bate com a fornecida por líderes da comunidade. Para a polícia há duas hipóteses: ou foi a morte do ladrão de carros e traficante Marcos Porcino, no domingo - ele foragido do presídio de Franco da Rocha -, ou foi a substituição do comandante de policiamento da área que desencadeou aquela reação violenta. Mas para o presidente da Associação de Moradores de Paraisópolis, Gilson Rodrigues, foi a morte - pela PM - de um morador do bairro, "um rapaz de família", que provocou a reação violenta. Não vem ao caso, aqui, levar em conta uma ou outra das versões divergentes. Mais importante é reter, para reflexão, a desembestada fúria de uma manifestação grupal que não se preocupou nem em explicar os motivos da violência praticada "contra o que fosse".
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