Gurgel

A morte de um sonhador

Sidney Borges
João Augusto Conrado do Amaral Gurgel morreu aos 83 anos depois de 12 anos de luta contra o mal de Alzheimer. Gurgel ainda viverá muito tempo nas ruas deste Brasil varonil, os carros que fabricou e que levam seu nome são longévos, duradouros, vão avançar século XXI adentro até virar peças de colecionadores.

No final dos anos 60, ao contrário do que informa a Folha, na página B6 do caderno Dinheiro de hoje, o mercado automobilístico brasileiro era dominado pela Volkswagen, secundada pela GM que era seguida pela Ford e pela Chrysler. A Fiat, citada na matéria viria quase uma década depois.

Naquela época Gurgel construiu seu famoso jipe com cara de fora de estrada, mas que não se dava bem fora da estrada. Por ocasião da independência de Angola, uma amiga, ex-guerrilheira, exilada em Cuba, foi trabalhar no país recém libertado. Lotada no ministério do planejamento batalhou muito e convenceu os executivos russos. Os carros da marca Gurgel seriam a salvação da lavoura.

Adquiridos às dezenas não seguraram a onda das estradas esburacadas, foram trocados por Land Rovers e transferidos para serviços urbanos. Isso foi contado por ela, que hoje deve estar trabalhando em alguma ONG e ganhando em dólares para salvar o mundo do capitalismo. ONG provavelmente financiada pela Fundação Ford.

Os jipes Gurgel são feitos de fibra de vidro, material resistente e de fácil manutenção, têm mecânica de fusca e por isso se dão bem em cidades litorâneas. Afora isso são desconfortáveis e pouco práticos, mas também são simpáticos, quase míticos, representam uma época que passou e de alguma forma deixou saudades.

Depois do jipinho, Gurgel fabricou uma estrovenga chamada X-15, um cruzamento de Kombi com lotação. O carro dos esquisitos.

No final da cruzada pelo carro ideal, Gurgel deu um tiro no pé ao lançar um veículo urbano com motor volkswagen cortado ao meio e vidros de correr. O projeto era interessante, mas fora de tempo, se tivesse aparecido em 1955 teria sido um sucesso, em 1976 concorreu com a chegada do Fiat 147, de mesmo preço e tecnologia avançada.

Gurgel era famosos pela teimosia, mas se tivesse tido apoio do governo teria se adaptado ao mundo novo que estava se descortinando pois era um homem inteligente, corajoso e realizador.

O governo não se interessou, preferiu dar apoio às montadoras multinacionais e Gurgel não conseguiu se manter em pé, acabou fechando as portas.

Pela coragem, espírito de aventura e capacidade realizadora Gurgel é um dos meus heróis.

O engenheiro Gurgel morreu. Viva o engenheiro Gurgel. O Brasil seria melhor se tivesse muitos iguais a ele.

Só com sonhadores realizadores o país sairá da brutal desigualdade que só não existe na propaganda do governo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu