Crise

O debate sobre a nacionalização dos bancos

por Paulo Moreira Leite (Clique aqui e leia o original)
O debate do momento, nos Estados Unidos e Inglaterra, é a nacionalização dos bancos. Não é invenção de dinossauros dos estudos econômicos. Embora os bancos desses dois países já tenham recebido bilhões de dólares em ajuda financeira, até hoje não se mostraram capazes de ficar de pé com as próprias pernas. Não conseguiram capitalizar-se. A cada dia acumulam novos rombos, descobrem mais balanços ruins e produzem novas incertezas e muita instabilidade. Mesmo aliados consistentes da economia de mercado, aqueles que gritavam “deixa quebrar” há menos de seis meses, já admitem a nacionalização — mesmo que façam questão de lembrar que não é uma panacéia que vai resolver todos os problemas do capitalismo. Não vai mesmo. A maioria dos países já teve bancos estatais, e muitos foram para o cemitério das boas intenções — quando elas existiam — como sinônimo de corrupção, desperdício e empreguismo. Mas hoje um impasse está colocado.


Os bancos estão fragilizados e buscam proteção para calotes passados e futuros. (A recessão, cada vez mais amarga, não ajuda ninguém a pagar nem a receber contas, como se sabe). O mercado está em fuga e os empréstimos não saem. Nessa situação, a saída é bater à porta dos cofres públicos. A alternativa é a bancarrota, num colapso descontrolado que seria ainda pior que o cotidiano amargo e incerto em que nos encontramos. O problema é como fazer isso. São duas hipóteses. Entrega-se o dinheiro aos bancos, para aplicá-lo à sua maneira, com sua lógica e seus interesses. Com pequenas nuances, é que se tem feito até aqui, com os resultados que se conhece. Ou compra-se ações, transformando o Estado em acionista, muitas vezes majoritário.

Não é uma questão técnica, quando se recorda que a medida envolve um dos fundamentos da economia de mercado, que é a propriedade privada. Após quase três décadas de privatização e enxugamento do Estado, essa medida também implicaria uma respeitável mudança de direção.

A nacionalização dos 10 principais bancos americanos — que enfrentam graus maiores ou menores de dificuldade –, com todos os custos envolvidos, não sái por menos de US$ 2 trilhões. Num mundo muito diferente do atual, mas onde enfrentava uma realidade muito parecida — a falta de confiança de investidores e consumidores — Franklin Roosevelt fechou os bancos privados americanos por uma semana. Aproveitou o período para fazer uma auditoria e, quando os guichês reabriram, só estavam autorizadas instituições cujos balanços haviam sido aprovados por auditores do governo. Não resolveu tudo, mas foi um começo. Milhões de americanos que já guardavam seu dinheiro em casa voltaram a fazer depósitos nas instituições autorizadas a funcionar.

A Suécia é considerada o melhor caso de sucesso contra uma crise financeira em tempos recentes. A nacionalização funcionou. No Japão, o Estado demorou a intervir nos bancos. A economia patinou por muito mais tempo. Mas não há garantia de sucesso. Depois de promover a nacionalização parcial do sistema bancário britânico, o governo trabalhista enfrenta uma ameaça de crise fiscal e monetária. Isso porque o Estado pode impedir um banco de ir à lona — mas é preciso fazer mais para arrumar a economia. Um cuidado essencial é manter o setor privado com disposição para o investimento e um certo grau de risco — mas isso não acontece quando ele sente-se sob ameaça.

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