Brasil

O assunto sumiu, mas a farra do celular na cadeia continua

Ponte Aérea por Xico Vargas (Clique aqui e leia o original)
Os presídios brasileiros são hoje os mais bem acabados entrepostos do crime. Salvo coisa rara, como a penitenciária Modulada, de Montenegro, Rio Grande do Sul, é nesses depósitos de criminosos que se organizam grandes assaltos, assassinatos e transmitem-se ordens no tráfico de drogas. Tudo em permanente troca com o lado de fora das grades. Só não se articulam golpes financeiros e falcatruas várias porque, no Brasil, autores dessas modalidades de banditismo geralmente permanecem soltos.


No Rio, arrasta-se há quase uma década discussão insana entre o governo do estado e as operadoras de telefonia celular sobre a obrigação de botar fim na comunicação entre chefões do tráfico presos e suas quadrilhas além muros. O estado não instala bloqueadores porque são caros e porque a tecnologia dos celulares evolui a todo o momento. Exige que os donos da telefonia excluam os presídios da cobertura de suas antenas.

O pessoal dos celulares sequer considera a idéia. Todos os projetos de instalação de antenas foram analisados e aprovados pelas chamadas autoridades, alegam. Deviam ter pensado nisso antes. Agora, bailou. Além disso, reposicionar ou recalibrar antenas a esta altura certamente causaria prejuízo a famílias vizinhas das penitenciárias, que não tem nada a ver com a distração do estado.

Enquanto isso não se resolve – e nada indica que virá a ser resolvido – o governo, como em quase todos os absurdos que permeiam a área de segurança, escolheu enxugar gelo. Instala detetores de metal, que raramente duram mais de duas semanas, e manda a guarda penitenciária apertar na revista, o que significa apenas mais corrupção.

O ex-governador Garotinho, então secretário de Segurança da patroa, figura de triste memória, chegou a defender o uso de celulares pelos presos. Seria uma forma, dizia, de conhecer-lhes os planos. Como se fosse confiável a guarda penitenciária, que permite a fuga de presos pela porta da frente da cadeia, ou a polícia, que presta serviços de segurança para chefes de milícias e ajuda a matar diretores do sistema penitenciário. Depois dessa idiotice, o assunto sumiu dos jornais, mas os telefones continuam a toda na cadeia.

A fuga do miliciano Batman que, diz a polícia, custou dois milhões de reais, foi combinada por celular. Quase um passo-a-passo até ele sair do presidio. Antes das delegacias ou das redações de jornais é às penitenciárias de Bangu que chegam os resultados das guerras de quadrilhas de traficantes e invasões de morros. Enquanto não acabar com esse veículo de rearticulação dos criminosos o poder público só pode dizer que põe bandidos no xadrez. Combater o crime exige trabalho mais amplo e completo.

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