Brasil

Iraque versus Rio de Janeiro

Diogo Mainardi
(...) fiz umas continhas e concluí espantosamente que, nos últimos dois meses, matou-se mais no Rio de Janeiro do que no Iraque. Claro que foi um exagero. Eu sempre exagero. Sou conhecido por minhas colunas exageradas. No caso, exagerei no número de mortes da guerra no Iraque. Na realidade, a taxa de assassinatos no Rio de Janeiro não superou a do Iraque somente nos últimos dois meses, e sim em todo o ano de 2008. De janeiro a maio, segundo o site Iraq Coalition Casualty Count, foram mortos exatamente 3.458 iraquianos, entre civis e militares. No mesmo período, no Rio de Janeiro, de acordo com os dados oficiais da secretaria de Segurança Pública, foram cometidos 2.441 homicídios dolosos, 87 casos de latrocínio, 17 episódios de lesão corporal seguida de morte e 6 policiais mortos em serviço. Total: 2.551 assassinatos. Considerando que a população do Iraque é duas vezes maior do que a do Rio de Janeiro, pode-se dizer que nossa guerra é mais mortal do que a deles.
Apostei que a mortandade no Brasil ultrapassaria a mortandade no Iraque num artigo publicado em 31 outubro de 2007 . Pode conferir. Sou o Oráculo de Bagdá. Na época, a imprensa americana ainda não havia percebido o efeito do aumento do número de tropas no desfecho da guerra. Depois de ser facilmente enganada por George Bush, que mentiu para poder invadir o Iraque, a imprensa americana foi facilmente enganada pelos detratores de George Bush, que a impediram de captar os primeiros sinais de progresso no país. Mas o que determinou a virada no rumo da guerra não foi só o aumento do número de tropas: foi, sobretudo, a troca do comando da operação, que corrigiu as asnices do grupo que planejara e executara a ocupação - Dick Cheney, Donald Rumsfeld, George Tenet. O que isso quer dizer? Quer dizer que há uma solução técnica para a violência. Que exige investimento, determinação, empenho político, inteligência, preparo e coragem.
Na segunda-feira, entrevistado por Reinaldo Azevedo, o deputado Raul Jungmann calculou que "entre 500 mil a um milhão de cariocas não podem exercer o direito constitucional de escolher livremente seu representante nas eleições de outubro", porque as milícias e o tráfico não deixam. Enquanto isso, o Wall Street Journal noticiava que a milícia de Moqtada Al Sadr, que até recentemente controlava e extorquia as favelas de Bagdá, anunciou o plano de abandonar as armas. Daqui a pouco, todos concordarão que a guerra no Iraque acabou, e terei de fazer mais um artigo sobre o assunto, repetindo os mesmos argumentos. No Rio de Janeiro, mata-se mais do que no Iraque, mas continuaremos a fazer de conta que ainda estamos vivos. (Trem Azul)

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