Opinião

Muito barulho, muita confusão

Washington Novaes
Há momentos, no Brasil, em que é difícil avaliar a realidade política, tais as contradições entre os diversos agentes ou entre as palavras e as ações. O momento que estamos vivendo é um desses. Nunca se ouviu falar tanto em desenvolvimento sustentável, poucas vezes se caminhou tanto em direções opostas em áreas muito importantes.

Pode-se começar pela licença prévia concedida ao projeto da usina nuclear Angra 3. A primeira pergunta seria se o País precisa de mais energia, inclusive dos 1.300 MW dessa unidade. E vários estudos - da Unicamp, da USP (professor Célio Bermann, entre outros), do WWF, dos professores Pinguelli Rosa (Coppe-UFRJ) e José Goldemberg (ex-ministro e ex-secretário, IEE-USP) e de outras instituições - dizem que o Brasil poderia até reduzir seu consumo em 30% com programas de eficiência e conservação de energia; ganhar mais 10% do consumo atual com repotenciação de usinas antigas; e outros 10%, ainda, aumentando a eficiência nas linhas de transmissão, que hoje perdem 15%. E tudo a custos muito menores. Mesmo se precisasse de mais energia, poderia recorrer a outras fontes, renováveis, mais limpas e mais baratas.
Não bastasse tudo isso, as usinas nucleares enfrentam problemas como o da insegurança: neste momento mesmo, duas usinas da França, país que mais depende de energia nuclear, apresentam vazamentos radiativos perigosos. E não há, em nenhum país, solução para o lixo nuclear. Em Angra 1 e Angra 2, ele continua depositado em piscinas, dentro das próprias usinas. Estados Unidos e Suécia, que tentam sepultar esses resíduos, não conseguiram resolver questões de ordem geológica, hidrológica, sismológica e outras. Aqui, diz o ministro do Meio Ambiente que exige "solução definitiva" (sem dizer qual). Mas o presidente do Ibama ressalva que "ninguém vai descobrir a pólvora". E o ministro de Minas e Energia, antes de definido o caminho, assegura que a implantação do projeto começa em setembro. Em que ficamos?
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