Epidemia



Sobre a Dengue

Coisas da vida. Percepção e falta dela podem ser decisivas, não é mesmo? Às vezes a visão política errada e o medo de admitir um problema podem atrapalhar tomadas de decisão que vão refletir direta ou indiretamente na vida de toda uma população. Vivemos atualmente uma epidemia de dengue. Ela está batendo à porta de cada um de nós e de forma galopante. Alguém em Ubatuba não conhece pessoa próxima que tenha tido dengue nos últimos dias? Esta é uma medida fácil de entender. Se o leitor não conhece ninguém que tenha tido, pode parar de ler agora. Epidemias requerem sistemas de saúde, sanitários e de controle de zoonoses eficientes e com metodologia padronizada. Infelizmente este não parece ser o caso de nossa cidade cuja Santa Casa está absolutamente à míngua. Não que os trabalhadores públicos do setor de saúde não sejam dedicados. O problema está na gestão destas questões. É como uma guerra. Quem se organiza melhor e trabalha duro tem mais chance de vencer. Diagnóstico e estratégia de ação são ferramentas fundamentais . Estou escrevendo estas linhas sem qualquer conotação política mas como cidadão. Cidadão que há um ano e 2 meses atrás ofereceu gratuitamente à cidade na pessoa de seu secretário de saúde, um método moderno e eficaz de diagnóstico e combate à dengue. Naquela época, entre Natal e Reveillon de 2005/06, tive a grata felicidade de receber em Ubatuba 2 grandes amigos, irmãos de sangue entre si. Dizem que intelecto não é genético, mas em certas situações tenho que discordar. Este parece ser um caso. Dois irmãos de uma mesma família, ambos cientistas brasileiros reconhecidos internacionalmente. O primeiro, Carlos Alberto Eiras Garcia, Físico e Oceanógrafo, foi Reitor da Universidade Federal do Rio Grande e uma espécie de padrinho para mim no início de minha vida acadêmica. Me recebeu em sua casa e ela me confiou enquanto se afastava do país para um Doutorado na Inglaterra. O segundo, irmão mais novo, Álvaro Eiras Garcia, Biólogo, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais parece ter seguido a veia da família e na ocasião estava por concluir seu Doutorado, justamente sobre o nosso flagelo: Aedes aegypti. Álvaro e seus colegas de equipe inventaram um método simples e revolucionário de monitoramento e controle da dengue que se baseia na captura sistemática dos mosquitos em armadilhas (que se utilizam de um atrator sexual) estratégicamente colocadas pela cidade e que dão ao gestor de saúde, através de um moderno programa de computador, informações estratégicas para a concentração das “tropas” na guerra contra a dengue. Com este monitoramento, o gestor de saúde localiza os focos e concentra as ações educativas, de campo e médicas. Naquele momento, como teste metodológico para comprovar sua tese financiada pelo Governo Federal, Álvaro tinha que eleger 10 cidades para testar gratuitamente a metodologia e comprovar sua eficácia. Dentro mais uma vez de uma visão estratégica, era sua intenção priorizar cidades turísticas pois são focos disseminadores deste tipo de doença. Recebemos aqui, milhares de visitantes por ano oriundos de outros locais. Estas pessoas se contaminam ou até dentro de seus automóveis transportam os mosquitos e chegam às cidades de origem “carregando” o problema. Uma cadeia de contaminação. Me perguntou se eu tinha contato com a Prefeitura e se achava que haveria interesse. Me prontifiquei imediatamente e contatei o Secretário que não demonstrou nenhum interesse. Uma pena. De qualquer forma, pela urgência do assunto acho que nunca é tarde para corrigir erros, ainda mais um deste tamanho. Infelizmente, acho que o método não é mais disponível de graça. Os pesquisadores patentearam o método, montaram uma empresa que já foi premiada internacionalmente e ao lado de Bill Clinton da Microsoft, foram à Califórnia receber um prêmio conceituado pelos benefícios à humanidade (visitem o site :
www.midengue.com.br ) Acontece que o método também é aplicável à malária, doença de veiculação semelhante e que é a campeã absoluta de mortalidade no mundo, deixando outros flagelos como a Aids para trás. Tenho orgulho deste meu amigo. Um brasileiro e tanto. Se pararmos para pensar nos prejuízos à saúde e financeiros pela sobrecarga do sistema de saúde e pela fuga dos turistas de zonas contaminadas, devemos imediatamente nos mobilizar contra esta doença. Em minha empresa já são 1 funcionário e 1 estagiária contaminados e outros com certeza estão por vir. Esperar por uma segunda infecção é alarmante.Depois de contaminado uma vez, o que fazer? Mudar de cidade ou agir? Como cidadão, me coloco à disposição para ajudar o atual secretário de saúde no que preciso for, incluindo contatar novamente meu amigo. De qualquer forma, todos devemos nos mobilizar. A asa do vizinho turista que está fechada pode ser um foco. Atenção especial às que tem piscinas sem manutenção, vasos, calhas que acumulam água, embarcações que não foram devidamente drenadas ao serem guardadas, etc. Estratégia, mobilização e organização são as palavras de ordem. Podem contar comigo, com o Aquário de Ubatuba e com o PSDB no que for preciso.

Hugo Gallo

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