Editorial

Segurança, parte da questão

Perguntado sobre a natureza do tempo, Santo Agostinho teria respondido:
- "Se me interrogam, sei o que é; se me questionam, já não sei mais".

Palavras sábias, o limitado cérebro binário dos humanos não dá conta da complexidade da indagação. O tema me veio à cabeça ao contemplar acontecimentos recentes e as soluções apontadas para resolver os intricados problemas desencadeados por eles. Estou me referindo ao quesito segurança, hoje uma das maiores preocupações dos habitantes desta parte do planeta chamada Brasil. Como faço parte, ainda que modestamente, do segmento conhecido como mídia, recebo diariamente dezenas de sugestões de pautas. Nos últimos dias, parte considerável delas esteve ligada ao PCC e à guerra travada em São Paulo. Da mesma forma que o santo homem tinha intuição da natureza do tempo, acredito que tenho idéia do que fazer para colocar sob controle o agudíssimo problema que nos aflige. Não é tarefa fácil, nem tampouco simples, como muitos querem acreditar. Com um milhão de jovens sem trabalhar ou estudar apenas na grande São Paulo, tenho a impressão, baseada em pura matemática, que as variáveis usadas pelos governos não darão conta de solucionar o sistema de equações apresentado. Alguns querem mais presídios, outros querem a pena de morte, outros ainda acreditam que ao atingirmos a perfeição do estado socialista tudo será resolvido. Não vou apontar uma solução imediatista, seria pouco sensato, até frívolo de minha parte. Também não vou politizar culpando o governo federal ou o estadual. O que salta aos olhos é que enquanto não for tampado o buraco crescente da dívida pública não haverá saída para o problema da segurança. Nem para inúmeros outros que nos afligem. O Brasil não pode continuar pagando juros tão altos, a prática suga a seiva vital da nação. Apesar da propaganda oficial dizer aos quatro ventos que tudo vai bem, a realidade mostra o contrário. Tudo vai mal. Muito mal. E tende a piorar. Quando na última campanha presidencial José Serra propôs uma trégua aos banqueiros para ter como investir na precária infra-estrutura do país, foi aplaudido em pé, demoradamente, alguns chegaram até a derramar lágrimas furtivas. Segundo o ajuste os homens do mercado ficariam sem receber juros da dívida pública até que as coisas entrassem nos eixos. Pacto firmado Serra saiu por uma porta e Lula entrou por outra. Deu no que deu. E tudo indica, vai continuar dando, até que o país entenda que os problemas que nos afligem não têm origem externa. Foram criados e são alimentados aqui. Por incompetência e ganância. Ambas em excesso.

Sidney Borges

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