Crime organizado

Fortalecimento do crime organizado é conseqüência da tese do Estado mínimo

O povo brasileiro ficou aterrorizado. E não é para menos. Ataques do crime organizado a agentes da Segurança Pública e rebeliões, vitimaram, em nosso estado, nos últimos dias, mais de 100 pessoas, entre policiais civis e militares, bombeiros, guardas civis, agentes penitenciários e suspeitos. Sem contar o pânico e o caos enfrentado pela população civil, com ônibus incendiados e deficiência no transporte público, postos policiais cravejados de balas e o comércio fechado. Além disso, os motins nas cadeias se espalharam por outros estados, a exemplo do Paraná e Mato Grosso do Sul. O quadro mais se assemelha a uma guerra civil e justamente em um país que se vangloria de ter um regime democrático consolidado. Só podemos lamentar tantas vítimas e nos solidarizar com suas famílias e amigos, afinal, a vida tem valor absoluto e o direito à ela é bem inalienável e cláusula pétrea da Constituição. Mas, para além do medo, da tristeza e da revolta, os episódios absurdos vividos em nosso estado devem impulsionar um amplo debate nacional e uma pressão junto ao poder público para a adoção de medidas concretas de combate ao crime organizado. Para tanto, a situação merece uma análise mais aprofundada.O que mais revolta é que o ocorrido já era um quadro previsível, sendo que até a Polícia Federal já havia alertado para tanto. As informações são de que, no governo Geraldo Alckmin, existia um acordo tácito de não se atacar os líderes da facção criminosa PCC, os quais possuíam muitas regalias nas prisões, de onde praticamente comandavam o crime, através de telefones celulares. No entanto, o governo que assumiu o Estado teria “endurecido” no tratamento a estes chefes do crime, os quais, por sua vez, orquestraram as rebeliões e ataques.A situação parece ter chegado a um “certo” controle, mas, ao nosso ver, mais uma vez, o governo de São Paulo errou. Isto, porque, segundo informações da mídia, foi fechado novamente um acordo com o crime organizado, em uma reunião da qual teriam participado três representantes do governo e o criminoso “Marco Marcola”, que seria o líder do motim. Isso é muito grave, pois é inimaginável que o Poder Público negocie com criminoso. Desta forma, se fortalece o crime organizado e se enfraquece o Estado. Outro erro do governo de São Paulo foi não acreditar nas informações da Polícia Federal, deixando de prevenir os ataques e rebeliões. Também foi lamentável o governador Cláudio Lembo, que é do PFL, não ter aceitado a ajuda do governo federal, assumindo para si todo o ônus. Afinal, em um momento destes, o bem da sociedade deve falar mais alto do que a disputa partidária.Por outro lado, como sempre acontece quando é exposta a fragilidade da Segurança Pública, a militância dos Direitos Humanos passa a ser uma espécie de bode expiatório, sendo apontada por muitos como o motivo de todos os problemas. Seria o mesmo que querer culpar Jesus Cristo pela guerra entre palestinos e israelenses. São questões díspares, que na verdade, têm por trás um discurso ideológico rasteiro para enfraquecer conquistas da sociedade. No entanto, ao analisarmos por um ângulo diferente, podemos dizer que, possivelmente, a causa está realmente ligada aos Direitos Humanos, mas à ausência destes direitos. Se tivéssemos em nossa sociedade acesso universal a direitos como emprego, educação, saúde e garantias fundamentais, com certeza, haveria mais paz. Como disse o profeta Isaías, há 2.650 anos, “a paz é fruto da justiça”.Também não podemos deixar de diagnosticar, tendo em vista o caos e o terror que se instalaram em nosso estado, que a instituição “Estado” está enfraquecida. Este é mais um resultado da tese do “Estado mínimo”, apregoada pelos neoliberais. Dizem eles que o Estado não deve interferir no processo econômico, o qual deve ser regulado pela “mão invisível do mercado”. Mas, na prática, o que vemos do Estado mínimo é a precarização de direitos fundamentais e sociais, entre eles, a segurança pública. Enfim, Estado mínimo acaba se traduzindo em crescimento da violência e do crime organizado e em enfraquecimento da democracia. Por fim, vale ressaltar que o terror que parou nosso estado, nos últimos dias, não é novidade no Brasil. Na realidade, trata-se de uma constante para muitos e muitos brasileiros que vivem nos aglomerados. Só não causa tanta comoção, porque mídia, sociedade e o próprio poder público têm fechado os olhos para esta verdadeira “guerra civil” diária que acontece escondida nos morros das periferias. Quem sabe estes episódios sirvam também para sensibilizar a sociedade brasileira, a fim de que também a população desfavorecida possa usufruir da paz, enquanto fruto da justiça.

Jairo dos Santos – PT
Vereador

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