Papo do Editor



Fera do mar

Sidney Borges
Enquanto eu falava ao telefone meu cachorro mostrava preocupação. Quando ele vira as patas para cima é sinal de sonho agitado. Em seguida deita-se de lado, resmunga e corre em rapidíssimas perseguições (ou seriam fugas?). Nunca saberei, Brasil é um orgulhoso representante dos canídeos, sendo predador e presa. Uma posição pouco confortável na escala alimentar que tem na base da pirâmide o Plâncton e no vértice superior a Orca.

Por falar nessas inteligentes criaturas, manifesto meu desapreço aos shows aquáticos. Sou contra. De vez em quando acontece um acidente, como vimos recentemente quando uma tratadora foi morta. Enfim, sou contra tantas coisas e tenho de me limitar a continuar assim pois meu poder de mudar o que vai por aí é ínfimo.

Em um dia quente como suponho seja o inferno fui a Caraguatatuba a trabalho. Lá encontrei um amigo. A temperatura alta fez com que entrássemos em um estabelecimento comercial em busca de água.

Coincidência. Demos com um conhecido em companhia da filha de 5 anos fazendo a mesma coisa. Conversa vai, conversa vem, ele nos contou que em uma cidade do litoral norte a menina foi diagnosticada com grave infecção bucal. Dois médicos recomendaram a extração dos dentes inferiores e receitaram antibióticos poderosíssimos.

Desconfiado ele buscou outra opinião.

Em Caraguatatuba o diagnóstico foi menos radical. Estomatite. Um remedinho na língua bastou para resolver o problema. Naquela noite a menina alimentou-se, o que não fazia há dois dias.

Na manhã seguinte sorria satisfeita enquanto mordia uma maçã com os dentes intactos. Minha mãe queria que eu fosse médico. Nunca cogitei em satisfazer esse desejo. Eu seria um péssimo médico. Sem vocação. Daria sempre o mesmo diagnóstico. Virose. E recomendaria antibiótico e soro. Exame de fundo de olho para dor de cabeça profunda nem pensar.

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Comentários

Anônimo disse…
Ora, Sidney...sua mãe, aonde quer que esteja deve estar frustradíssima...Aqui em Ubatuba tua carreira médica seria de grande magnitude. Virose daqui, virose dali e nos dias de sol, surf e açaí...
Quem sabe você também poderia ser vereador, quem sabe Presidente da Camara ! E sairia a conceder títulos de cidadãos ubatubentes, posaria abraçado com prefeito e outras espécimes do genero.

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