Ubatuba

Cadê o Ministério Público?

“Hoje quem deve morrer? A samambaia, ou a velhinha de Ubatuba?”

Saulo Gil
Atualmente, o poder de conformismo do ser humano se tornou realmente a principal defesa para a sonhada realização pessoal. No entanto, a falta de compaixão e sensibilidade com a vida humana, principalmente, dos mais necessitados, não pode mais estar presente em autoridades que são pagas pelo povo e representam vontades de uma sociedade democrática, que quer evoluir. O Governo Federal traça uma linha certa, quando trata o combate à miséria e à exclusão social, como base para um País que deseja ser desenvolvido (pena que para esta base estar completa ainda falta bastante coisa, principalmente, combate à burocracia e à corrupção). No entanto, no Litoral Norte, o tom de conformismo das autoridades com o crescimento da miséria e da pobreza deve bater recorde.

Em Ubatuba, a cena foi nítida: Dezenas de pessoas simples, uns descalços de tão acostumados com o mato, brigando para ter direito à eletricidade e, consequentemente, geladeira, televisão, música, enfim... Luz. Entre os condenados à escuridão, estavam ditos remanescentes quilombolas, mas que, certamente, continuam escravos deste sistema. Onde estamos? No Zimbábue? Ou, no século 21, no Estado mais rico do Brasil, a 300 quilômetros da quarta maior capital do mundo? E a pergunta mais pertinente. Cadê o Ministério Público, que deveria zelar pelos direitos constitucionais de cada cidadão deste País? Esta falta de norte das diversas esferas do poder público brasileiro permite abusos por parte de setores e autoridades. Mas, pior, quando tais abusos vêm acompanhados do já criticado conformismo dos seres humanos. Nesta reunião em busca da luz em Ubatuba, a Diretora do Núcleo Picinguaba, Eliane Simões, deu declarações que deixam clara a necessidade de evolução humana, principalmente nos gestores públicos.

Precisamos de fibra na política, fibra na administração pública, principalmente nos municípios, em erradicar o submundo e fazer-se respeitar a Constituição Federal, que garante o direito de uma vida digna a cada cidadão brasileiro. A posição do Estado, em tratar burocraticamente a necessidade de energia elétrica de um ser humano, alguns até doentes, é, no mínimo, desumana.

Enquanto se avalia um Termo de Compromisso Ambiental, não pode-se evoluir na possibilidade de trazer luz aos necessitados, decretando ao bel prazer de políticos bem remunerados, a escuridão alheia. O poder público parece não temer tamanha violação aos direitos humanos previstos em Lei, quando não permite a concessão de eletricidade. As perguntas continuam. Será que é bom estudar a luz de vela? A qual bem cultural a comunidade tem acesso sem luz? E os remédios que devem ser guardados na geladeira, aonde os miseráveis devem enfiar? E a pergunta mais pertinente, novamente. Cadê o Ministério Público? O caso da senhora doente que precisa de geladeira pra armazenar os remédios está sendo analisado. Então, os técnicos entram em um laboratório e devem se perguntar: Hoje quem deve morrer? A samambaia, ou a velhinha de Ubatuba? É a única linha de analise possível neste caso.

Mais inconcebível ainda, é o anunciado apoio do Ministério Público a estes posicionamentos fascistas. Ou seja, em Ubatuba, os que deveriam zelar pela Constituição, rasgam a Legislação Brasileira, e ignoram a regra mãe da democracia, que prevê a igualdade de direitos aos cidadãos deste País. E qual direito pode ser preservado, quando aqueles que deveriam lutar pela preservação dos direitos, ajudam a decretar a escuridão ao nosso povo, os tratando como bichos. Boa idéia povo miserável! Virem bichos, selvagens! Talvez assim, o ambientalismo radical, inserido nos poderes públicos, resolva olhar para vocês com a compaixão devida.
Editoral do Imprensa Livre de 20/05/2009

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu