Aviação

Um mudkó caiu do céu!

A história do maior acidente aéreo do Brasil contada por quem a viu mais de perto: os índios

Daniel Nunes Gonçalves
Foi um estrondo seco. Ecoou por alguns instantes no entardecer daquela sexta-feira, 29 de setembro de 2006, quebrando a rotina das 3 aldeias de índios caiapós da reserva Capoto-Jarina, no norte do Mato Grosso, na margem oeste do rio Xingu. Na vila Capoto, os homens interromperam a caça e a pesca para olhar para o céu, onde as araras voavam assustadas. Na Metyktire (lê-se metutire), o líder Betâ Txucarramãe, o Wai-Wai, sentiu a terra tremer às 5 da tarde. “Deve ser uma dessas bombas que os militares costumam explodir na serra do Cachimbo”, pensou.


Em Piaraçu, a matriarca Warê Juruna tomou um susto quando plantava mandioca na roça. “O som podia ser de um porco bravo, ou de um trovão, mas não havia sinal de chuva”, conta. Com medo, convocou as outras mulheres e correu para casa. À noite, só se falava no tal som misterioso entre os 1 000 habitantes do subgrupo caiapó chamado metyktire, que habita essa reserva de 635 hectares espalhada ao longo de 3 cidades mato-grossenses. Especialmente durante a reunião diária na roda dos homens, uma espécie de balanço das atividades do dia.

A explicação viria no dia seguinte. Misto de cacique informal e pajé de Piaraçu, Bedjai Txucarramãe acordou dando uma resposta à sua esposa Warê Juruna: “Sabe o trovão que você ouviu ontem à tarde? Meu tio, que mora na aldeia dos espíritos, me visitou num sonho. Disse que um mudkó caiu na nossa terra”, relatou – mudkó (na língua caiapó, escreve-se màdkà), ou “casca de arara”, é como eles chamam avião.

Aos 62 anos, Bedjai, maior autoridade entre os 150 moradores de Piaraçu, recebeu a confirmação às 6 horas do sábado, dia 30. A ligação chegou pelo telefone público do local: alguém vira na TV que um avião tinha caído na terra de seu povo.
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