Briga doméstica

O jornalismo marrom de Carta Capital

Repilo e repudio, não posso aceitar e nem me calar

José Dirceu
Repilo e repudio, não posso aceitar e nem me calar perante à infâmia e a covardia da edição desta semana da revista Carta Capital, na ignominiosa reportagem que publica a meu respeito com o título "Endredo dantesco".
Tenho defendido neste blog, aberta e quase diariamente, todas as medidas para combater a corrupção e o crime organizado no país. Jamais compactuei com qualquer ação, ou omissão, que enfraqueçam essa luta do governo Lula. Vocês, leitores, são testemunhas de como sempre apoiei e apóio todas as operações da Polícia Federal (PF) nesse sentido, da mesma forma que testemunham a minha persistência nas denúncias e luta contra todos os abusos cometidos.
Vítima destes desde sempre, nunca me intimidei e não me intimido com as tentativas de me envolver em denúncias. Fazem-no com freqüência, vazando informações confidenciais para a imprensa e até mesmo me investigando, como aconteceu, em um desses casos típicos de abuso de autoridade a que me referi, no do MSI Corinthians, no qual houve a quebra de meu sigilo telefônico e de mais quatro cidadãos ligados a mim pessoal ou profissionalmente.
Durante todo o primeiro semestre desse ano fui vítima dessas tentativas torpes, seja no caso MSI/Corinthians; seja no caso BNDES/prefeitura tucana de Praia Grande (depois conhecido como caso BNDES/ deputado Paulinho); seja no caso Bejani (o prefeito afastado de Juiz de Fora – MG); seja agora no caso Daniel Dantas/Operação Satyagraha.
Neste último, a partir de um telefonema corriqueiro e normal para marcar um encontro com o advogado e dirigente do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh, meu companheiro de partido há 28 anos, tentou-se, sem sucesso, envolver-me nas investigações. Usar um telefonema para marcar um encontro meu com Greenhalgh como prova de minhas ligações com o caso Daniel Dantas é um atentado à inteligência do país e dos leitores de Carta Capital.

Faltam provas, sobram calúnias

Nas investigações e no inquérito não há menção, indício ou prova de minha participação no episódio, a não ser a tentativa nesse sentido do delegado que presidiu o inquérito. De forma canhestra, ele relacionou a transcrição de um telefonema de Humberto Braz (colaborador de Daniel Dantas) a seu assessor Gilberto, com a participação de uma secretária, Andréa, como se fosse uma conversa entre Braz, o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, a jornalista da Folha de S. Paulo, Andréa Michael, e eu. Uma tentativa ridícula e bufa.
Em todos os casos que mencionei, finalizadas as apurações e inquéritos, nada consta contra mim ou que me envolva, direta ou indiretamente, com elas ou com a denúncia. Em sua edição desta semana Carta Capital me coloca em sua capa como operador para impedir investigações sobre Daniel Dantas e dá como prova uma viagem que fiz ao Marrocos, quando voltava dos Emirados Árabes Unidos, em fins de outubro de 2007.
Além do desrespeito comigo, a revista dá à minha viagem um caráter sigiloso e suspeito, que ela absolutamente não teve. Foi o oposto, ela foi noticiada na coluna Hildegard Angel, no Jornal do Brasil, e por Reali Júnior, há anos correspondente de órgãos da mídia brasileira na França, com quem jantei - com ele e sua esposa, Amélinha - no dia 2 de novembro de 2007, em Paris.
Naquela viagem, fiquei hospedado no Hotel Passy, na rua de mesmo nome, em Paris, jantei com o casal Reali, e com o escritor Paulo Coelho e sua esposa, a artista plástica Cristina Oiticica no apartamento do casal em Paris, e no dia 4 de novembro voltei ao Brasil. As notícias sobre essa viagem, inclusive, destacaram o fato de ter havido o encontro casual meu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua esposa, dona Ruth Cardoso, já que, coincidentemente, viajamos no mesmo vôo da Air France de Paris para São Paulo.

Nunca apoiei Daniel Dantas

Mais caluniosa, além de fantasiosa, é a descrição da revista sobre minhas relações com o delegado e diretor da PF. Não o vejo e não falo com ele há mais de 4 anos. Não tive nenhuma participação em sua indicação, muito menos em nomeações de diretores da PF, ao contrário do que me imputa a revista no caso de José Hilário Medeiros, por quem diz Carta Capital, eu teria intercedido para ocupar o setor de Inteligência no órgão. Da mesma forma, não tive qualquer relação com sua suposta indicação para um pretenso comitê organizador das Olimpíadas de 2016. Aliás, desconheço a existência desse comitê.
Repito o que já afirmei inúmeras vezes antes: recebi Daniel Dantas como recebi outros dirigentes de bancos, fundos de pensão e companhias telefônicas, em audiência, na condição de ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República. Disse-lhe que o governo não se envolveria nas disputas dele e do Citibank com os fundos de pensão, que essa era uma questão sub-júdice e que deveria ser tratada na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e na justiça brasileira e americana. Disse-lhe, ainda, que ele deveria procurar os dirigentes dos fundos, no caso do Previ, o presidente do Banco do Brasil.
O conteúdo de minha conversa com ele é público – tornou-se público tanto por mim, quanto por ele. Não tenho nada a esconder. Jamais defendi Daniel Dantas no governo, e nisso invoco o testemunho do ex-ministro da Comunicação, Luiz Gushiken, que a revista cita para dar credibilidade às suas calúnias. O ex-ministro é meu amigo e companheiro. Com ele jamais discuti ou divergi sobre Daniel Dantas.

Reportagem é pura aberração

Carta Capital publica como acusação contra mim o fato de eu ser amigo do advogado Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay. Somos amigos, e isso muito me honra. A revista pratica o pior jornalismo ao deduzir e apresentar a nossa amizade como prova de que eu apóie ou defenda Daniel Dantas. Carta Capital comete uma infâmia ao acusar-nos de cúmplices do dono do Oportunity - Antônio Carlos por advogar, e eu por ser amigo do advogado.
Não tem limites a indignidade e a agressão de Carta Capital nesta sua edição a minha honra e à verdade. A revista me acusa de ser operador de uma conspiração para inviabilizar a Operação Sathyagraha e de proteger Daniel Dantas. Não divulga, por não ter, provas ou sequer indícios disso. Mas viola flagrantemente os meus mais elementares direitos constitucionais, quando desrespeita a presunção da minha inocência, e os meus direitos relativos à imagem garantidos pela Constituição.
Em síntese, o que a revista perpetra contra mim essa semana, e que chama de reportagem, é uma aberração, uma peça de ficção. Contesto-a sem medo. Quero ser julgado o mais rápido possível pela acusação que respondo no STF de corrupção ativa e formação de quadrilha. Até lá, e também depois, estejam certos, não me calarei ante vilanias como essas assacadas contra mim por essa revista. (Zé Dirceu)

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