Opinião

Muitas incógnitas no preço dos alimentos

Washington Novaes
Saldos negativos nas contas externas do País nos últimos meses começam a acender luzes de advertência, seja porque aumentam as remessas de lucros e dividendos (maiores que os investimentos) e as saídas nas contas financeiras, seja porque no primeiro semestre deste ano o déficit externo foi o maior desde 1947 e o saldo comercial, inferior em 44,8% ao de igual período do ano passado. A dívida externa volta a superar os US$ 200 bilhões, a dívida líquida do setor público se mantém acima de 40% do PIB e os juros pagos no semestre (R$ 74,8 bilhões) pela dívida interna de R$ 1,239 trilhão equivalem a mais de seis meses de despesas com o maior programa social do governo federal, o Bolsa-Família. Uma das luzes foi acesa pelo próprio ministro das estratégias federais, ao dizer que será difícil sair desse quadro em que o comércio exterior é muito afetado pelos cartéis de compradores de nossos produtos e fornecedores de insumos, principalmente na agricultura (Folha de S.Paulo, 6/8), embora nossas vendas ao exterior não passem de 1,2% do total mundial.

Em todo o quadro, assume destaque progressivo a questão do preço dos alimentos, principalmente pela influência nos índices internos de inflação e na própria oferta interna de alguns bens. O presidente da República, porém, em abril último achava (Estado, 26/4) que "a crise na oferta de alimentos é passageiras, não é coisa perigosa". Será mesmo? Quando se olha o conjunto de causas que estão empurrando para cima o preço dos alimentos e de commodities, sobrevêm muitas dúvidas. Ali se juntam a alta de preços de fertilizantes e dos combustíveis, o aumento da demanda por alimentos, principalmente na Ásia, e a migração de parte dos fundos financeiros para o mercado de commodities, assustados com as crises sucessivas na área do dinheiro.
No setor dos fertilizantes, por exemplo, este jornal lembrou em editorial (21/7) que o governo parecia perdido em meio a altas de 91% no preço do potássio importado, 75% no do nitrogênio e 61% no do fosfato; só produzimos 9 milhões de toneladas das 24,5 milhões consumidas em 2007. O ministro da Agricultura responsabilizava o "oligopólio dos fertilizantes" e a falta de investimentos nossos no setor. O preço de adubos está dobrando em relação à safra anterior, registrou o caderno Agricultura (30/6). Mas não somos os únicos prejudicados. Segundo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da ONU, nos países ditos em desenvolvimento os gastos com alimentos representam de 60% a 80% dos gastos totais. As importações de alimentos no mundo chegam este ano a US$ 1 trilhão (US$ 215 bilhões mais que no ano anterior). Aqui, diz o Dieese, os preços dos alimentos subiram 30,83% entre julho do ano passado e maio deste ano, com destaque para o feijão (105%).
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