Xadrez

Bobby Fischer

João Carlos Salles
Boris Spassky disse, certa feita, que o jogo de xadrez seria como a vida. A afirmação é trivial. O xadrez encenaria a guerra, a luta, a vitória, o fracasso, a morte. Mesmo verdadeira, a analogia é pobre, diz pouco, quase como se revelasse algum possível distanciamento, algum ceticismo ante um simulacro.
Mais expressiva é a analogia entre o xadrez e a linguagem, caso notemos que a analogia se dilui pela pura e simples identificação, tornando-se o xadrez apenas um exemplo privilegiado. O xadrez é, então, simplesmente, linguagem, tratando-se de ver quem nele pode sentir-se em seu elemento, quem pode afirmar estar aí em sua própria pátria, em sua própria língua.
Cada peça é uma palavra, cujo sentido e tempo dependem de um contexto. Nesse caso, saber o significado da palavra bispo é poder senti-lo em sua condenação a apenas metade do tabuleiro, enquanto um peão carrega seus andrajos lentamente, podendo contudo tornar-se cada vez mais forte. É perceber a espacialização do tempo pelo tabuleiro, que uniformiza durações distintas, dispondo em um mesmo campo lances contingentes e lances necessários e separando um gesto legítimo de um puro absurdo.

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Nota do Editor - Bobby Fischer é um dos ícones de minha vida. Um dia comprei um livro dele sobre xadrez, sou consumista, compro livros. E costumo lê-los o que depois de alguns milhares de aquisições me tornou alguém que sabe um pouco de tudo e não tem a pretensão de saber tudo de nada, coisa que só se aprende depois da leitura de muitos livros. O livro de Fischer tinha um título singelo: "Bobby Fischer ensina xadrez". Quem melhor para ensinar xadrez do que o maior jogador do mundo? Uma ressalva, o fato de dominar uma arte pode não ser o fator essencial para se ter sucesso ao ensinar essa arte. Saber e saber ensinar são coisas distintas. Newton era considerado um dos professores mais aborrecidos de Cambridge. O livro não tinha teoria, estava na moda o uso de programas de ensino, baseados no raciocínio sincrônico-diacrônico usado no projeto do submarino nuclear Náutilus. Moda é moda, serve para as roupas das mulheres, para a ciência e para o xadrez, se bem que é mais fácil vender roupas femininas. O engôdo passa desapercebido, aquelas moças que desfilam vestem bem qualquer coisa. Nas lições do mestre o aluno aprendia a matar. Idéia fixa, nada de perder tempo com organização do centro, domínio tático, idéias de Packman, que nunca me serviram de nada. Quando terminei os programas de ensino de Fischer eu tinha avançado como jogador de xadrez. Aprendi a ir direto ao ponto, evitar raciocínios dispersivos, cultivar a objetividade e manter os olhos fixos no objetivo. Aprendi a não titubear, não desistir, não me deixar intimidar. Aprendi a encontrar o ponto fraco do adversário e fechar a partida. Usei os métodos do livro em minha aulas de Física. Eles também servem para a política, que tem semelhança com o xadrez. Bobby Fischer morreu. Viva Bobby Fischer. (Sidney Borges)

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