Imprensa

Morre em São Paulo fundador da revista Realidade

Faleceu na tarde de ontem, dia 21, na cidade de São Paulo, aos 74 anos, Paulo Patarra, vítima de câncer na garganta. A pedido do próprio jornalista seu corpo foi doado à faculdade de Medicina da USP, para estudos, em virtude do que a família dispensou cerimônias fúnebres. Patarra é considerado o pai da revista Realidade.
Patarra descobriu a doença, provocada por 61 anos de tabagismo, no início do segundo semestre do ano passado. Durante sua internação hospitalar, em uma entrevista ao
ABI Online concedida a Gil Campos, o veterano jornalista fez a seguinte revelação: “Fumei perto de 1 milhão de cigarros. Fiz as contas.”

Carreira

Paulo Patarra foi membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) entre 1957 e 1960. Durante o Governo Juscelino Kubitschek, foi preso ao ser flagrado pichando a frase “Anistia para Prestes”. Em 1968, fez uma entrevista com Luís Carlos Prestes que mereceu capa da revista Realidade. Considerada uma das principais da trajetória profissional de Patarra, a reportagem lhe rendeu um Prêmio Esso de Jornalismo — bem como sete meses escondido em um hotel no Guarujá, por conta da Editora Abril. Isto porque, quando a publicação saiu, estourou o AI-5, e o jornalista temeu ser preso e torturado pelos dos militares para revelar o destino de Prestes.
Nascido em São José dos Campos-SP, em 21 de outubro de 1933, Paulo Patarra tinha 20 anos quando estudou no Seminário de Cinema do Masp, ao mesmo tempo em que cursava o Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva (CPOR) do Exército. Começou o curso de Ciências Sociais na USP, mas não concluiu. Em 1956, foi expulso do curso de Jornalismo da Cásper Líbero, acusado de encabeçar um movimento grevista. Tinha a fama de “jornalista maldito”, termo atingiu toda sua equipe na revista Realidade, devido ao jornalismo de contracultura, que fugia ao padrão de “bons modos” da mídia da época. (Fonte: ABI Online)



Nota do Editor - Em 1984 Paulo Patarra era editor do programa Globo Rural, época em que trabalhamos juntos e nos tornamos amigos. É dificil passar o significado da revista Realidade, para mim uma espécie de cunha enfiada na porta do obscurantismo, a luz fluia através da abertura e por mais que forçassem, a porta nunca se fechou. Em 1968 nós queríamos nos libertar do ranço conservador, presente em todas as atividades, Paulo anteviu essa ânsia dois anos antes e lançou a revista em 1966. A ele o mérito, aos Civita os lucros. Realidade alavancou a Editora Abril e segurou a onda do projeto Veja, deficitário por muitos anos. Patarra não ganhou um milésimo do que produziu, era gauche na vida, gostava de beber e fumar. Fumava tanto que o hoje prestigiado jornalista, Paulo Henrique Amorim, Paco Maluco no metiér, iniciou carreira como carregador de cinzeiro de Paulo Patarra. Onde ele ia, ao lado estava Amorim, sempre compenetrado e carregando o cinzeiro. Paulo dizia isso em tom de brincadeira, Amorim sempre foi gentil com chefes e contínuos, quando começou e naquela época, comentarista poderoso na Globo. Dizer que Patarra morreu por causa do cigarro é forçar a barra, digamos que passou maus bocados por causa do cigarro. Um detalhe, na fase em que estivemos próximos, Paulo bebia Cointreau. Uma garrafa por dia, em copo alto cheio de gelo. Tentei acompanhar, meu fígado não concordou... (Sidney Borges)

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