Opinião

E a História se repete

Os vermes evadidos do cadáver regressam a ele, empenhados na veleidade insensata de reconstruí-lo. Que o diga o aspecto desta cidade entrevada, na imobilidade de seus bairros primitivos. Que o diga a indigência da nossa lavoura, a anemia sonolenta do nosso comércio, a Educação retraída...
Esquecer-nos, entregando-nos ao tempo e ao mofo, como se esquece a casaria de um velho solar abandonado... Sugar dos nossos melhores filhos a flor da virilidade moral...
Semelhante propaganda, meus caros, não resiste a cinco minutos de bom-senso. Esses regeneradores representam o elemento que esgotou vários anos da nossa paciência e de nossa credibilidade, entretendo-nos com a promessa (de palanque) de reformas eternamente adiadas... Indivíduos que se constituíram em arautos da Moral à custa da seiva fartamente vampirizada... As Câmaras anuladas pela corrupção parlamentar.
Os males que hoje nos afligem são raízes sobreviventes...
O jogo da desconfiança, da antipatia, da esperteza mútua... desistir do foro republicano é prostituir-se. Conquistas destas não se revogam, senão pelo processo por que se fazem os eunucos; os trânsfugas do Paço anojados pelo passamento da Dinastia; os zangões promovidos a Financeiros; os analfabetos, candidatos pensadores; os epiléticos graduados em Estadistas.
O mal causado pela ação dessas influências é incalculável. Haja vista a questão financeira nas proporções atuais, resultado lamentável das explorações dessa deslealdade sistematizada, que principiou por adulterar a obra, para acabrunhar depois com as responsabilidades de uma situação criada principalmente pelos que a desfrutam.
Imaginem, agora, a distância a que não teríamos chegado além, se a política, a má política, a anti-política, a política dos violentos e os incapazes não nos tivessem obstruído pertinazmente o caminho. Os fatos estão nos mostrando, por todos os modos, que o país não necessita senão de ser escutado.
Esses são alguns trechos do discurso de Rui Barbosa. Embora tenha sido proferido há 114 anos, em 1893, não é mera coincidência, a História se Repete e retrata muito bem o momento histórico que vivemos hoje, no município de Ubatuba.


Miguel Angel
Fotógrafo

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