Editorial

Escravidão

Maio chegou com céu azul e lua cheia. A temperatura finalmente começa a baixar e com isso a epidemia de dengue deverá recuar. O frio faz com que os mosquitos diminuam a atividade e nós durmamos melhor. Neste feriado procurando informações sobre a dengue descobri que é mais uma das mazelas da escravidão. O mosquito Aedes aegypti é originário da África e veio ao Brasil em poças d’água de navios negreiros. A escravidão ainda se faz presente, de forma velada, nos rincões deste país. Na infância, viajando de trem em companhia de meus pais eu ficava horrorizado com os vagões de gado. Pobres animais, trancafiados, com fome e sede, sem poder se mover, aterrorizados, sendo transportados para a morte. Já adulto, viajando pelo Estado de São Paulo a cena do gado me vinha à cabeça sempre que eu via um caminhão de bóias-frias a caminho dos canaviais. Que vida. O salário é suficiente apenas para sustentar o corpo e serve como garantia aos patrões de que a máquina humana continuará trabalhando. Enquanto isso os lucros astronômicos da atividade açucareira tendem a aumentar com a expansão do uso do álcool. Mais valia. Marx falava disso no contexto da Europa dos séculos XVIII e XIX. Se voltasse ao mundo e viesse ao Brasil ele ficaria perplexo com a atualidade do que escreveu. O gado seguia rumo à morte física. Os bóias-frias seguem esperando que um dia o trabalho tenha algum significado.

Sidney Borges

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