Nobre arte

Campeões

Medel encurralou Eder nas cordas. Nas cadeiras de ringue o Dr. Carlos Mesquita de Oliveira, médico da Federação Paulista de Pugilismo sentiu quando a esquerda do mexicano buscou o fígado de Eder. É o pior golpe que existe no boxe, tira o fôlego, dói muito, endurece a perna, turva os olhos, amarga a boca. O mexicano continuou batendo, outra esquerda no fígado, a direita no baço, a esquerda em cima e novamente embaixo, um direto poderoso na mandíbula, Eder fechou-se como pode, buscou ar e sentiu uma agulhada na base do pulmão, tentou mudar de guarda para evitar a esquerda do mexicano, a perna não obedeceu. No córner o olhar experiente de Kid Jofre fez com que pegasse a toalha. Era quase inacreditável que um pugilista agüentasse tanto castigo. Eder segurou o mexicano sob vaias da torcida, toda ela de Medel. Forçou a respiração até o ar entrar em seus pulmões clareando o raciocínio, apesar da dor terrível no fígado. Quando o juiz separou os pugilistas Medel avançou para finalizar a luta. Eder recuou, encostou-se nas cordas e quando a direita do mexicano baixou lançou o suingue mais perfeito que já foi visto em um ringue. Saiu de baixo para cima, um longo arco desenhado com o compasso dos deuses do Olimpo. A luva atingiu a ponta do queixo do mexicano que arregalou os olhos, recuou dois passos e baixou a guarda, exatamente quando soava o gongo terminando o assalto. A luta ainda recomeçou, mas só por bravura de Medel ou talvez por falta de compaixão de seu técnico, na verdade ele só se recuperaria da esquerda de Eder na páscoa de 1962. Com três golpes Eder colocou Medel a dormir e naquele momento teve início a mais bela historia do boxe brasileiro de todos os tempos. (Sidney Borges)

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