Coluna da segunda-feira

Falta de perspectivas

Rui Grilo
Não conheço o Celsinho mas gosto de ver e de ler suas crônicas pois trata temas graves e profundos com o tom de um papo cordial entre amigos.

Devo dizer que também agradeço o apoio que me deu quando fui desacatado de forma grosseira pelo prefeito apenas pelo ato de expressar minhas idéias e meus direitos como cidadão.

Devo também dizer que, embora possamos divergir politicamente, o fato de sermos educadores cria em nós alguns laços de identidade e a convergência de idéias e sentimentos.

Na sua coluna de 04/06/10 ele diz: “É angustiante ver a falta de perspectivas para a nossa garotada.” Em seguida diz que há algumas ações, mas de pequeno alcance frente ao elevado número de jovens e que é necessário um esforço muito maior e mais abrangente; mas fica em dúvida se há atores confiáveis para conduzir um processo de mobilização da comunidade, isentos de interesses pessoais, sejam políticos, financeiros ou religiosos.

Também sinto essa angústia e concordo com a necessidade de ampliação e de articulação de esforços para que haja um melhor resultado. Para isso é necessário que compreendamos que sempre há interesses e que é necessário dialogar e negociar para ver até que ponto podemos caminhar juntos avaliando perdas e ganhos evitando que a desconfiança paralise a ação e que essa situação de desesperança continue.

É necessário investir em pequenas ações, porque se os resultados forem positivos, mesmo que seu alcance seja limitado, dão-nos ânimo para tentar passos maiores. Ao contrário, se não conseguimos porque tentamos darmos passos maiores que as pernas, isso pode levar ao desânimo.

Caldo de galinha e prudência não faz mal a ninguém mas só a convivência permite um melhor conhecimento das pessoas. Se partimos da desconfiança fica difícil a construção de projetos coletivos. Portanto, é necessário dar um voto de confiança, mas sem ser ingênuos, sabendo que todos nós somos falhos e que as diferenças servem para um complementar o outro. Para que o grupo funcione é necessário que se valorize o que une os seus membros e não o que os separa.

Se não temos pernas para fazer muito ou atender a todos, é necessário elencar prioridades. É necessário optar por um trabalho que contribua para criar perspectivas para aqueles que não podem contar com a ajuda de sua própria família e de seu grupo social. É preciso alargar seu horizonte sócioafetivo e cultural.

Mas não é fácil trabalhar com adolescentes. É preciso partir de suas necessidades, deixando-o caminhar com as próprias pernas estimulando suas iniciativas, amparando-o para não cair e para não desanimar.

Há cinco anos trouxemos Ferréz para fazer um debate com os grupos de hip hop que estavam tentando se organizar aqui em Ubatuba. A partir de debates que aconteceram nas escolas estaduais Idalina e Deolindo, os grupos ganharam mais consistência e organizaram o I HIP HOP da PAZ.

Através dessa atividade foram se formando lideranças, desenvolvendo habilidades de organizar projetos e de distribuição de papéis e de funções, fortalecendo a autoestima, valores e relações sócioafetivas e culturais.

Mais tarde, essas primeiras lideranças atuaram junto à Fundação Alavanca que, com o patrocínio da Petrobrás, pode pagar um cachê a esses jovens para que coordenassem oficinas na sede da Alavanca, no Pé da Serra, em escolas e em várias instituições, proporcionando a formação de novas lideranças.

Neste ano, na primeira semana de novembro, será realizado o V HIP HOP DA PAZ. Nesses cinco anos, já recebemos grupos de várias cidades do estado de São Paulo, contribuindo para a divulgação do município, tornando Ubatuba uma referência nesse tipo de manifestação cultural.

Outras ações estão sendo desenvolvidas pela Fundação Alavanca:
a) o projeto itinerante de cinema;
b)projeto de formação de lideranças em parceria com a Rede de Educação Cidadã e com a Campanha de Cidadania no Litoral Norte.

No projeto de cinema, além de uma atividade de lazer, procuramos apresentar filmes que levem à reflexão sobre valores, atitudes e perspectivas de vida.

No projeto de formação de lideranças, procuramos dar instrumentos para análise da realidade e formas de intervenção para a melhoria da qualidade de vida, rompendo a lógica de cada um pra si e de que cabe apenas ao governo a solução dos problemas comunitários.

Da sensação de vergonha por essa situação de injustiça que separa as classes sociais, temos que passar à ação e sair da passividade.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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