Coluna do Celsinho

Pirulitos

Celso de Almeida Jr.
Há muitos anos busquei o apoio de um empresário para patrocinar um projeto cultural.


Ele, falante ao extremo, tentava sair pela tangente.

Declamou um Salmo.

Contava causos.

E, distraído, explicou que já ajudava muito a cidade.

Bastava eu perguntar a alguns políticos, seus amigos.

Deixei a conversa fluir.

Empolgado, ele disse que dinheiro não é um termo adequado para usar em certas situações.
Entregou que, quando precisava ser mais convincente na defesa de seus interesses, distribuía - com generosidade - pirulitos.

Resistindo aos meus argumentos, não abriu a carteira.

Resignado, agradeci a atenção, mas tentei nova estratégia.

Fui ao prefeito, amigão do peito do salmista.

Eu já sabia que caminhávamos para um ano eleitoral.

Recomendei uma conversa convincente, afinal, seduzir empresário era especialidade do primeiro mandatário.

Não deu outra.

Em 10 dias o prefeito colocava no meu bolso um cheque de 5 mil pirulitos, emitido pelo nobre empreendedor.

O projeto tornou-se real.

Mas, não curti.

Sabia que aquele fruto trazia na semente o gérmen do toma-lá-dá-cá, temperado com boa dose de tráfico de influência.

Algum tempo depois contei esse caso para outro empresário.

Ele o recebeu com gargalhada.

Sugeriu que eu deveria sair com mais frequência do ambiente escolar, onde passei grande parte de minha vida.

Pragmático, disse que eu ainda tinha muito a aprender.

Rotulou-me de poeta, romântico, um autêntico sonhador.

Alertou-me que, na prática, a teoria era outra.

Mandou parar de lamuriar o método, pois alcancei o que queria.

Achei bobagem contra-argumentar.

Alguns sentimentos poucos compreendem.

Mas aprendi com as experiências.

Vi como se criam riscos.

E conheci novas designações para uma mesma palavra.

O segundo empreendedor disse-me que não trabalhava com pirulito.

Preferia queijinho.

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