Coluna da Segunda-feira

O Fim da escola

“O fim da escola que aí está implicará professores treinados para atuarem
como facilitadores, transitando em várias esferas do conhecimento. As
matérias não estarão presas ao currículo definido no ano anterior, mas
ao calor do cotidiano.”

Gilberto Dimenstein

Rui Grilo
Após quase 20 anos de governo tucano, o ensino público estadual apresenta um estado de calamidade pública, traduzido pelo baixo desempenho no IDEB, com 4,9 na quarta série; 4,3 na oitava e 3,8 no final do ensino médio; ficando abaixo dos estados de Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal.

Tentando explicar esse resultado, o Secretário de Educação Paulo Renato de Souza, que foi reitor da Unicamp, atribuiu a culpa por esse resultado à má formação dos professores e às universidades estaduais: “No lugar de ensinarem didática, as faculdades de educação optam por se dedicar a questões mais teóricas. Acabam se perdendo em debates (...) cujo ideário predominante não passa de um marxismo de segunda ou terceira categoria... A resistência vem de universidades como USP e Unicamp, as maiores do país".

O diretor e dois professores da Faculdade de Educação responderam ao Secretário: “infelizmente, as universidades públicas paulistas são responsáveis por apenas 25% das vagas universitárias, contra 75% das privadas. Vale dizer que essa discrepância não parte de uma opção das universidades públicas, mas foi produzida, nos últimos anos, pela própria política de encolhimento do setor público e ampliação do setor privado que ele, quando ministro da Educação, ajudou a implementar.”

E acrescentam: “equivoca-se o sr. secretário ao confundir autonomia do professor, como intelectual que reflete sobre a própria prática, com ausência de método. Nossa ênfase na formação continuada, a partir dos projetos pedagógicos desenvolvidos nas escolas com foco no trabalho coletivo, reforça essa diferença.

Mudanças educacionais só produzem resultados a longo prazo. O que se vê no ensino público é a descontinuidade e a mudança de linha de trabalho quando se muda o governante, tratando os profissionais do magistério como marionetes que tem que trabalhar de acordo com a orientação do governante de plantão.

Na tentativa de dar uma resposta à sociedade, além dessa crítica às universidades, o governo estadual tenta unificar o currículo obrigando todas as escolas a usarem o mesmo material didático, tendo o professor de seguir a seqüência do livro, alegando para isso, nas entrelinhas, que o livro supre a incompetência do professor.

Por trás dessa atitude, está uma concepção de educação que é predominante no PSDB: a escola deve transmitir conteúdos básicos e universais, portanto é só distribuir livros que contenham esses conteúdos básicos, reduzindo o professor ao papel de monitor.

Muito diferente é a concepção que orienta o “modo petista de governar” e que se aproxima muito do que Dimenstein propõe acima. E que se aproxima da proposta da Unicamp por enfatizar a necessidade de formação continuada e valorização do professor.

Orientado, principalmente pelas experiências desenvolvidas por Paulo Freire e seus seguidores, educar é desenvolver o olhar sobre a realidade, mobilizando a própria experiência e o conhecimento acumulado pela humanidade para resolver os problemas atuais e planejar o futuro. Escolhido um problema que se julga necessário compreender, todas as matérias e/ou disciplinas são chamadas para explicar as causas e origens do problema e possíveis soluções. Não existe um currículo pré-definido. O currículo é a soma de todas as experiências do indivíduo e a escola é o lugar das interações, da troca de conhecimentos e construção de novos conhecimentos coletivos a partir dessas interações. À escola cabe planejar para que essas trocas sejam cada vez mais produtivas.

Através do estudo, análise e conhecimento da realidade imediata pode-se chegar à compreensão de realidades cada vez mais amplas. Ao estudar um problema que afeta o aluno e a comunidade imediata, o conhecimento adquirido torna-se significativo, quebrando-se assim a descontinuidade e a falta de sentido do conhecimento escolar, dividido em gavetinhas – as disciplinas curriculares. Não adianta saber onde fica a floresta amazônica se não se questiona e se conhece qual o papel que ela desempenha nas nossas vidas.

Na visão freiriana, a educação tem como centro a cultura, isto é, a capacidade humana de criar e transformar a realidade existente. Ao transformar o mundo criando coisas que lhe permitam viver em diferentes ambientes, o homem elabora o conhecimento e, para perpetuar e transmitir esse conhecimento criou a sua maior ferramenta: a linguagem.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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Comentários

Celso de Almeida Jr. disse…
Olá Rui!Registro um pensamento de Paulo Freire que gosto muito: "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam em comunhão." Vamos em frente...com entusiasmo...que a melhora virá.

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