Coluna da Terça-feira

Clodovil

Mauricio Moromizato
“Até o momento que finalizo esta coluna (00h22min.), continua grave o estado de saúde do deputado Clodovil Hernandes, vítima de AVC. Como cristão e católico, estou orando para que Deus lhe seja companheiro nessa hora decisiva da vida. Como cidadão de Ubatuba só há o que lamentar com o ocorrido, visto que o deputado é hoje a maior autoridade nacional dentro do município e estava sinceramente comprometido em ajudar Ubatuba.”

Assim terminou essa coluna da semana passada. O que ocorreu depois, todos estão cansados de ler e em todos os jornais do Brasil foi notícia. Aqui na terra de Cunhambebe, várias manifestações em todos os veículos possíveis. Uma única ausência, a da prefeitura e do Prefeito. E aqui, lembro de uma coluna do Celsinho, quando se referiu a mim, ao professor Rui Grillo, a Julinho Mendes e ao professor Cursino, pedindo que o prefeito nos pedisse desculpas de ataques desferidos. Clodovil era outro que mereceria desculpas por parte do prefeito, que ao ser politicamente criticado, desferiu publicamente palavras de ataques pessoais ao deputado, nossa maior autoridade e nosso maior divulgador em todos os tempos. Que fique a lição, tanto no sentido de pedir desculpas como em se policiar para conter ataques pessoais. Agora é tarde.

Como todos sabem, fui apoiado politicamente por Clodovil e sua equipe nas eleições para Prefeito de 2008. Ali pude conhecer um pouco sobre sua pessoa e sentir nas ruas seu carisma e o porquê de seus quase 500.000 votos.

Conheci o deputado durante o primeiro “penicaço” de Itamambuca, promovido pela amiga Regina, em meados de 2008. Pedi para ser apresentado à sua assessora Meg, conversei sobre política e sobre minha então provável candidatura a prefeito e ao ser apresentado a Clodovil, duas coisas ficaram marcadas. Primeiro, sua rapidez em agir, pois eu queria apenas iniciar uma conversa sobre possível apoio dele para as eleições. Clodovil e sua assessora marcaram uma conversa para o mesmo dia, em sua casa, e de lá, rapidamente, conversou com sua assessoria em Brasília, pediu que checassem junto ao PT nacional se eu era de confiança e em poucos dias uma aliança política estava criada. A segunda coisa que ficou marcada desse dia foi uma lição de vida. Ao relatar a Clodovil que sou natural de Andradina, ele se lembrou de ter ido muitas vezes até lá, na época que era costureiro famoso. Conheço a pessoa que o hospedava e ao lhe falar que poderia restabelecer um contato com ela, ele disse: “Maurício, a vida é feita de ciclos, que devem ser vividos com intensidade, mas ao serem fechados não voltam mais. Meu ciclo de vida com Andradina se fechou, se for procurar essa pessoa agora é para abrir outro ciclo, pois o passado não volta, de maneira que deixe Andradina ficar na minha memória como um bom ciclo em minha vida”. Se tenho alguma virtude, a vontade de aprender sempre talvez seja a maior delas e por isso, de tudo que pude captar de Clodovil, talvez essa seja a maior lição que extraí.

Clodovil entrou na campanha, por razões políticas e pessoais, já na reta final. Não foi por oportunismo. Por questões partidárias, foi impedido de participar no início, mas me avisou: “faça sua parte, junto a seu partido e aliados, que no momento certo irei lhe apoiar”. E assim foi. Não tenho dúvidas que apesar das polêmicas seu apoio foi fundamental para a votação que nossa coligação obteve. Dessa fase, o que mais lembro foi do carinho com que as pessoas no comitê lhe receberam, principalmente os cabos eleitorais e as pessoas de origem mais humilde, e de seu pedido de atingir sempre o povo tanto que além de passagens pelo calçadão, foi conosco até o Sesmaria, o Ipiranguinha e a Bela Vista, em comícios na rua, com chuva.

Durante a campanha, falou muito numa candidatura a senador, mas nas últimas conversas, já estava decidido que seria novamente candidato a deputado. Com humildade, disse que estava aprendendo com a política e sua mudança para Brasília, feita após as eleições foi um movimento claro de que estaria empenhado em se reeleger. Logo após a campanha pediu na câmara municipal que se criasse um comitê para acompanhar a aplicação dos recursos municipais. Fez gestão junto ao DNIT para que aconteça a duplicação da BR-101 entre Praia Grande e Perequê-Açú. Nesse ano, há emendas parlamentares suas beneficiando diversas instituições de Ubatuba.

Afora esse relato de convivência pessoal, como todos sabem, viajo muito a trabalho, para o norte do País e ainda vou a São Paulo com freqüência, bem como politicamente convivo com todo o Vale do Paraíba e Litoral Norte e visito o interior de São Paulo sempre que possível. Agora que Clodovil se foi, pensando na perda, posso me recordar de inúmeras vezes em que ao falar que moro em Ubatuba ser interpelado por questões do tipo: “Clodovil também mora lá”, “ouvi falar de Ubatuba no programa do Clodovil”, “vi as praias de Ubatuba numa reportagem sobre a casa do Clodovil”, “Clodovil sempre fala de Ubatuba”, ”Clodovil falou que as praias mais bonitas do mundo estão em Ubatuba”, “Fui conhecer Ubatuba depois que ouvi Clodovil falar sobre a cidade”.

Enfim, perdemos a nossa maior autoridade política e com ela se foi um importante instrumento de luta para a melhora de Ubatuba. Escrevi propositadamente “terra de Cunhambebe” no início porque em uma de nossas conversas Clodovil disse que Ubatuba só começaria a se livrar da maldição de Cunhambebe quando iniciasse um processo de reconhecimento da cultura indígena e ele pretendia que houvesse um monumento de homenagem ao povo indígena na obra da Duplicação da BR-101. A se pensar, não é? Na última vez que conversei com Clodovil, há mais ou menos um mês, por telefone, sugeri que ele fizesse uma audiência pública para mostrar a Obra para toda a população, como forma de garantir apoio para a mesma e reconhecimento para sua atuação. Uma de nossas lutas agora será garantir junto ao Governo Federal que essa obra aconteça.

O ciclo de Clodovil aqui na terra se fechou. Com seu jeito, suas extravagâncias, sua opção sexual, suas polêmicas e tudo o mais, Clodovil se foi deixando claro que não foi só alguém diferente e sim alguém que fez a diferença. Deus tinha outro plano para ele. E como disse a Meg, com certeza está indo ao encontro de sua mãe. Para nós em Ubatuba, também se fecha um ciclo e em tempo de crise, tenho convicção que esse acontecimento representa um duro revés para todos nós. Que lá de onde se encontra Clodovil nos ajude espiritualmente a encontrar um caminho de paz, prosperidade e fraternidade para Ubatuba.

Descanse em paz, cidadão Ubatubense Clodovil Hernandes.

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