Brasil

Pobre não pode ganhar nem na poupança?

Paulo Moreira Leite (Clique aqui e leia o original)
Num país onde a caderneta de poupança é a única alternativa de investimento para famílias de baixa renda, a idéia de reduzir seus ganhos para impedir o esvaziamento dos fundos de investimento — opção preferida por pessoas de patrimonio mais polpudo — chega a ser um insulto. Não é só uma questão econômica. É política, também.


Indexada à inflação, a poupança realimenta a pressão de preços e, dessa forma, contribui para pressionar os juros para cima. É correto pensar numa forma de impedir isso. O país necessita de juros baixos. Pode-se pensar mudanças nesse terreno, portanto.

A discussaõ é maior do que isso, porém. Na época das vacas gordas dos juros altos e do crescimento das bolsas, a poupança foi um investimento modestíssimo, sem comparação com os ganhos oferecidos pelos concorrentes.
Depois do colapso global, tornou-se uma opção real e valiosa. As bolsas foram moídas. Com os juros em queda, os tradicionais fundos de investimento entraram na zona de risco e começam a se esvaziar. E é para defendê-los que o governo quer mudar, para baixo, a remuneração da poupança.

Com isso, protege o dinheiro de quem aplica em fundos e prejudica quem está na poupança.

Acredite se conseguir: na hora em que o cidadão humilde tem a chance de ganhar um pouco mais, em função de normas em vigor há vários anos, elas serão modificadas.

Uma forma razoável de manter o interesse pelos fundos de investimentos seria diminuir a taxa de administração que os bancos cobram dos fundos de invstimento — porcentagens salgadíssimas, que também contribuem para diminuir o interesse pelo fundos de investimentos. Seria uma maneira de, pelo menos, dividir o prejuízo.

Mas imagine se é possível pensar nisso no país das castas financeiras.

Nos países desenvolvidos, o colapso financeiro do ano passado reviveu a crítica à política de privatizar lucros e socializar prejuízos.

Já num país que vive na pré-história social, parece estabelecido que os de baixo nunca podem ganhar, como se estivessem excluídos do progresso por alguma razão de origem genética — como a casta dos intocáveis na India da novela das 8.

Num país de castas financeiras, não há um esforço sequer para manter as aparências.

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