Opinião

Negociação não interessa a Uribe

Editorial do Estadão
Praticamente coincidindo com o 44º aniversário do surgimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), tivemos, domingo, a confirmação da morte do seu fundador e jefe máximo Manuel Marulanda, o Tirofijo, aos 77 anos, e o anúncio de que o seu sucessor é o ideólogo Alfonso Cano, 52, líder da "ala política" da organização - que deseja negociar com o governo a legalização do bando terrorista como partido político. Querem, em outras palavras, que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, suspenda sua vitoriosa ofensiva contra a narcoguerrilha, iniciada em fins de 2003, e inicie o diálogo com as lideranças da linha tida como moderada do novo comandante, que tem para oferecer-lhe, em troca da legalização, a deposição das armas de um exército que já dominou grande parte do território colombiano, hoje reduzido a uma quadrilha de bandoleiros em debandada pelas selvas colombianas.
Razões humanitárias explicam por que entre os primeiros a defender essa alternativa - a favor da qual decerto se formarão pressões internacionais - estão os que se concentram na libertação da refém-símbolo Ingrid Bettancourt, a seqüestrada candidata presidencial franco-colombiana, com a saúde gravemente abalada por seis anos de desumano cativeiro. Mas é inadmissível que fale em negociações de paz com os farquistas o ex-presidente Andrés Pastrana, antecessor imediato de Uribe. Aparentemente, ele se esqueceu do fiasco da sua tentativa de atrair a guerrilha para um entendimento, entregando-lhe, como zona desmilitarizada, uma área de 42 mil km² do país. As Farc retribuíram com um diktat que só poderia ser recusado: o governo que cumprisse as condições que impuseram, nenhuma delas negociável, e ponto final.
Pode-se argumentar que no mandato de Pastrana (1998-2002) a guerrilha parecia segura, controlando grande parte da Colômbia, e hoje definha a olhos vistos. Mas a sua desintegração vem do êxito da estratégia linha-dura adotada por Uribe, o único líder de seu país a identificar a verdadeira natureza do inimigo - que só entende a linguagem da força - e a agir de acordo. Apoiado pela esmagadora maioria da população, o "Plano Patriota" de Uribe reduziu os efetivos do desmoralizado movimento de 17 mil para 9 mil, atingiu em cheio os seus escalões intermediários, vitais em qualquer força armada, confinou-os aos remotos rincões da fronteira, em plena floresta, e os obrigou a montar acampamentos no exterior, como o que Bogotá bombardeou em março último no Equador, abatendo o número dois das Farc, Raúl Reyes.
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