Imprensa

Lembrando Carlos Castello Branco

O ambiente dos grandes jornais é conservador?

As instituições são todas conservadoras, a Igreja era conservadora, agora deixou de ser; a universidade era conservadora, agora deixou de ser, está num processo de renovação muito grande; e a imprensa também era conservadora. A imprensa hoje é uma indústria, em que o lado empresarial é mais importante que o lado jornalístico, e o lado boêmio da imprensa praticamente desapareceu. O jornalista dissociou-se muito da empresa, antigamente o jornal era feito por um jornalista que queria influir nos acontecimentos, na vida do país, então havia muita identidade até entre a redação que se formava e a empresa do jornal, havia muita solidariedade. Hoje não há nenhuma solidariedade entre o jornal e os jornalistas, os repórteres e redatores, o sujeito trabalha para aquela empresa, mas não tem nada a ver com aquela empresa, Eu trabalho para o jornal do Nascimento Brito há 26 anos e não tenho nada a ver com ele. Trato muito bem, temos boa relação pessoal, mas eu não penso como ele pensa, ele tem os compromissos dele.

Alguma vez você foi convidado pelo Roberto Marinho para ir para O Globo?

Fui convidado, em condições desagradáveis, que não aceitei; foi no dia da renúncia do Jânio Quadros. Eu ia entrando no Palácio, saltei na garagem, ia para o meu Gabinete, já que era Secretário de Imprensa do Presidente, e ia anunciar a renúncia do Jânio. Então, encontrei o Roberto Marinho, na garagem. Ele tinha uma audiência marcada com Jânio para as três horas da tarde, aí eu falei: ‘Dr. Roberto, o senhor não precisa subir. Vou lhe contar aqui confidencialmente. O presidente renunciou. Eu vou anunciar daqui a pouco a renúncia dele.’ Ele disse: ‘Eu tenho que passar isso para o jornal.’ Aí eu contestei: ‘Eu lhe falei agora, confidencialmente.’ Aí ele disse: ‘Faltam só dez minutos.’ Eu disse: ‘Só às três horas, o senhor vai esperar.’ Aí ele me perguntou, ‘Você não quer trabalhar no Globo?’ Falei: ‘Não.’ Foi à única vez que ele me convidou.

Em Brasília os jornalistas acabam tendo uma intimidade grande com o poder, o que até complica um pouco, não? O Rio era assim também?

Não, o Rio era muito diferente, a gente se encontrava com os políticos na Câmara e no Senado, e isso acabou. A gente falava por telefone, mas não ia na casa um do outro. Era um fato excepcional a gente ir à casa de um político. Aqui não, aqui a gente vive na casa deles. Mas eu me retraí muito, raramente você vê um político na minha casa.

A Coluna do Castello, publicada diariamente no falecido Jornal do Brasil, foi provavelmente a coluna política mais influente que o Brasil jamais teve. Castellinho, como era conhecido, escrevia bem e conhecia a política e seus meandros como poucos. Nesses tempos em que aqueles que fazem análise política à esquerda e à direita, por essas bandas da Internet, costumam ter muito pouca informação e opinião de sobra ditada muitas vezes por alguns quilos de rancores pessoais, não custa lembrar como foi que se exerceu um dia este ofício. (Do Blog do Pedro Doria)
Pois que agora Carlos Castello Branco está online

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu