Angra 3. Sim ou Não?



Panes em usinas aumentam temor pela energia nuclear

Por: Ina Rottscheidt, Jornalista da DW

No ano passado quase aconteceu um segundo "Chernobil" na Suécia. Na Alemanha, a central nuclear de Brunsbüttel foi desligada e, no Japão, um terremoto provocou irradiação. São casos isolados ou cotidianos nas mais de 400 usinas atômicas do mundo?
A usina atômica alemã de Brunsbüttel é uma das mais seguras do mundo. Isso porque está desligada… Ao todo, há 438 plantas nucleares em funcionamento no Planeta, a maioria das quais em países industrializados: 104 nos Estados Unidos, 59 na França e 31 na Rússia. Com 17, a Alemanha tem relativamente poucas usinas.
O problema verificado em Brunsbüttel não foi o único dos casos registrados nos últimos meses que elevaram o temor em relação ao uso da energia nuclear.
No início de Julho de 2007, um forte terremoto causou vazamento de material radioativo numa usina nuclear construída sobre uma falha tectônica no Japão. Ao incidente em Brunsbüttel, seguiram-se problemas em Krümmel, também na Alemanha.
Há pouco mais de um ano, um reator em Forsmark, na Suécia, foi desativado após dois dos quatro geradores de emergência movidos a diesel e responsáveis pelo resfriamento do reator, terem sido colocados em funcionamento manualmente.
Segundo uma escala de avaliação de panes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), acontecimentos como os que se sucederam na Alemanha, na Suécia e no Japão são exceções e não representam perigo.
Essa também é a opinião de Klaus Kotthoff, da Sociedade para Segurança de Reatores Nucleares e Instalações (GRS), um órgão independente de especialistas. "Não existe tecnologia sem falhas". Kotthoff lembra os diversos procedimentos de avaliação e as medidas para dominar falhas e panes, como nos casos das usinas nucleares de Brunsbüttel e Krümmel: "A meu ver, essas ocorrências não têm grande significação do ponto de vista da técnica de segurança", afirmou o especialista.


Falhas ignoradas

Por outro lado, Henrik Paulitz, da Organização Internacional de Médicos para Prevenção da Guerra Atômica (IPPNW) tem a impressão que os incidentes na Alemanha foram extremamente sérios: "O mecanismo de proteção do reator foi ativado e isso só acontece em casos graves".
Segundo ele, esses não seriam casos isolados, mas haveria numerosos incidentes no país sobre os quais a sociedade não é suficientemente informada. As informações seriam, na maioria das vezes, "incompreensíveis" e a seriedade das circunstâncias, abafadas. "As graves falhas de seguranças são simplesmente ocultadas", critica Paulitz.
Os reatores nucleares alemães estão, em geral, entre os mais seguros, comenta Kotthoff. No entanto, um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) constatou, já em 1997, que a usina atômica alemã de Biblis B, por exemplo, estaria entre as menos seguras, na comparação internacional. Somente a usina norte-americana de Maine Yankee, hoje fechada, se encontrava em posição inferior. As outras instalações do país tampouco são consideradas seguras por Paulitz. "Através de uma concatenação infeliz de circunstâncias, os problemas técnicos e as falhas humanas podem provocar uma catástrofe, em qualquer lugar e a qualquer hora", prognostica Paulitz.
A sucessão de incidentes acontece em uma fase em que a energia termonuclear parece avançar. Ao lado da energia produzida a partir de carvão, a energia atômica é considerada uma das formas mais econômicas de produção energética, à medida que aumentam os preços do petróleo e do gás natural. Sobretudo as economias em rápido crescimento, no Leste Europeu e na Ásia, apostam na energia nuclear a fim de atender sua crescente demanda energética. "Também os debates sobre a mudança climática e a redução de emissões têm relevância. E se trata, naturalmente, da segurança do fornecimento", presume Alan McDonald da Agência Internacional de Energia Atômica.


Argumentos enganosos?

Mas é justamente a segurança do fornecimento que parece enganosa. O urânio necessário tem que ser importado pela maioria dos países. Além disso, segundo dados da AIEA, existiriam, mundialmente, somente cerca de 4,7 milhões de toneladas a serem exploradas. Considerando o atual consumo anual, esses estoques durariam apenas cerca de 60 anos. Assim, as reservas de urânio se esgotariam antes das de petróleo e gás.
Paulitz também considera mínimos os efeitos da energia nuclear para a proteção climática, já que ela seria responsável por somente 1,2% do fornecimento energético mundial. Para alcançar efeitos consideráveis sobre o clima, milhares de novas usinas atômicas teriam que ser construídas, comenta o especialista, o que não seria possível, devido à baixa capacidade produtiva da indústria nuclear.
"Trata-se somente de manter a produção energética nesse nível baixo e preservar a qualidade tecnológica - também devido ao interesse em armas atômicas. Mas trata-se de uma tecnologia marginalizada de fornecimento energético, da qual se pode abrir mão, sem problemas. Não há nenhum renascimento da energia atômica", afirma Paulitz; ele também faz referência ao problema - ainda não resolvido - do tratamento dos dejetos, cuja radioatividade permanece por dezenas de anos.
Além disso, um número crescente de questões de segurança centraliza o foco de atenção da AIEA, afirma McDonald: todo um departamento da Agência se ocupa de como impedir tanto o mau uso de material nuclear, quanto os efeitos de atentados terroristas contra as usinas. Paulitz é pessimista: "Os terroristas que pretendam explodir uma usina atômica podem fazê-lo com meios relativamente simples, de forma que a proteção contra atentados é simplesmente impossível".

Fonte:Revista Eco21 - Ano XVIII - nº: 134 - Janeiro de 2008
Enviado por: CEAU Ubatuba
ceau.ubatuba@gmail.com

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