Por um triz...



Tarantino tropical

O primeiro de roupa listrada sou eu, no presídio Chaing Gang, no Alabama, onde passei uma temporada sabática. Minha prisão aconteceu depois de uma grande confusão no bar do anão curdo. Tenho vaga lembrança de alguma coisa pesada impedindo que me levantasse, tentei me mover e um um punho fechado atingiu minha boca e parte de meu nariz, fazendo estragos em ambos. O cheiro de sangue e a adrenalina curaram a bebedeira, eu estava em perigo, apanhando sem saber o porquê. Reagir ou fugir, alguma coisa precisava ser feita antes que fosse demasiado tarde. Outro soco atingiu o meu rosto, doeu menos do que a gargalhada sarcástica ao fundo, desta vez senti que o malar tinha sido afundado. Meu oponente era muito forte, mas vacilou e perdeu o olho direito, que afundei com o indicador, golpe que aprendi no Nepal quando me preparava para ser agente secreto da rainha. Aos gritos de desespero o animal saiu de cima e virou de costas, foi o seu maior erro, permitiu que eu sacasse a Walther. O primeiro tiro entrou pela parte posterior da cabeça e esparramou miolos em pedaços minúsculos pelo carpete cinza, fazendo uma composição irrepreensível. Dei mais dois tiros por medida de segurança, ambos no peito. O silêncio que se seguiu fez com que as batidas de meu coração se assemelhassem a tambores dos pigmeus de Bandar. Saí dalí apressado, quando me preparava para entrar no carro senti uma fisgada no ombro esquerdo. Alguém me atingira com uma 9 mm, caí ao lado da porta. Outro tiro tirou uma lasca de osso de minha perna direita, por um momento senti os sentidos indo embora, me abandonando. Alguem estava tentando me matar, justamente a mim que não conhecia ninguém na cidade. Com muito esforço estiquei o braço e empunhei a submetralhadora Uzi. Experimentei ficar imóvel, me fingir de morto, quase sempre dá certo. Um carro deu a partida e avançou em minha direção, rolei para baixo de meu próprio carro e disparei nos pneus do agressor que perdeu o controle e bateu em um poste, enchendo o ar de fumaça. Levantei-me com dificuldede, peguei a 12 no porta-malas e acabei com a festa, depois do terceiro tiro o carro explodiu e virou uma bola de fogo. O sangue perdido acabou por me derrubar. Acordei em um hospital, onde fiquei vinte e oito dias antes de ser julgado e condenado à prisão perpétua, sem direito à condicional. Acabei de fugir, vou voltar e terminar o que comecei, aquela gargalhada ainda martela os meus ouvidos. Do que ria aquela mulher?... (Sidney Borges)

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